daqui da janela se pode ver como chega a primavera, colorida de amarelo na asa de duzentas borboletas, que chacoalham, sambam em música muda, pintam a tela do mundo

daqui vejo dois amores em desvario, embebidos em seu próprio mel, quem faz a hora é o prazer, o beco vira palco

o homem e seu cigarro se enche da própria solidão

a matemática dos prédios, a humanidade das nuvens, a arquitetura dos corpos

quando toca saudade, a janela é um bálsamo; se o mundo chora, a água brinca no vidro

o sol lambe o parapeito

e o aceno do meio da rua insinua o encontro e embeleza a esperança: a janela do peito escancarada para o amor

Carmezim escreve às quartas-feiras