Ele volta sempre para me visitar. Mesmo quando acho que viajou pra longe, tão longe que esqueceu o caminho. Aparece no fim da tarde e fica pegado em mim tomando um café preto que não pede, lamentando a vida enquanto olha o dia cinza pela janela. Repete, entre um gole e outro, não deu certo, não foi, não deu nada certo.

Quando se cansa do passado levanta, olha a sala, desgosta. De costas, vendo um quadro na parede, diz e o pior é que não vai dar certo nada, nunca. Acabou.

Mas dizendo acabou não sai. Fica. Ainda se importa.

Boto a vassoura na porta pra que vá embora e leve sua lamúria, que ninguém tem mais paciência. Ele cala como se adivinhasse.

Enquanto examino suas rugas, penso no mar, talvez porque as listras na testa pareçam ondas imobilizadas em um retrato antigo.

Quando a gente boia o mundo é inofensivo e só dá para ouvir de muito longe as vozes das pessoas que conversam suas vidas e das crianças que riem. A gente fica lá só sendo alguém que boia o tempo sem fim que for.

Abri o olho e a casa estava vazia de novo.

Tatiana Mendonça escreve às sextas