A inflação brasileira bateu no teto e alcançou 6,51% em abril. Para se evitar a escalada dos preços é necessária a compreensão de uma coisa: não somos os únicos nesta situação – pelo contrário.

As pressões recentes começaram com a quebra do Lehman Brothers em 2008. Após o estouro da crise, os governos de todo o mundo tiveram que desembolsar alta soma de recursos para se evitar uma depressão. Nos EUA os resultados demoraram a vir. A solução do Fed (Banco Central) foi comprar mais US$ 600 bilhões em títulos do governo no final de 2010 e, assim, despejar dinheiro novo no mercado. As verdinhas ainda com cheiro de tinta não demoraram a ultrapassar a fronteira norte-americana e chegaram aos mercados emergentes, onde as perspectivas de negócios são melhores que na América do Norte ou Europa. Com enorme soma de dinheiro circulando, a inflação despertou nos Brics e em outros países do Sul.

Em artigo provocativo publicado na semana passada no New York Times, o Prêmio Nobel Paul Krugman escreveu que os EUA não podem ser culpados pela pressão inflacionária no mundo. Os norte-americanos, segundo o economista, devem prosseguir com sua política de juros baixos e pró-crescimento do PIB. “[A inflação] não é nosso problema, caras”, sintetizou. “Nossa política econômica deve se preocupar com empregos, empregos e empregos”. Para ele, a solução para os países em desenvolvimento é controlar a entrada excessiva de dólares.

Sobre essa necessidade de barrar a entrada de capital de curto prazo, existem poucas dúvidas em todo o mundo. O FMI, maior incentivador da abertura financeira dos países em desenvolvimento, já defende medidas neste sentido. O governo brasileiro mostra-se um dos maiores interessados neste processo, mas quer evitar que o Fundo elabore uma bula que contrarie os interesses do país ao prescrever ações que inibam o crescimento do PIB.

No Brasil, essa discussão parece que não nos diz respeito. Enquanto no mundo o controle de capitais começa a ser discutido, por aqui analistas e setores da opinião pública abordam a inflação como um resultado de falta de credibilidade do governo recém-empossado. Com isso, o debate se concentra exclusivamente em corte de gastos públicos e aumento da taxa de juros, medidas estas para desestimular o “instinto animal” dos interessados em investir em novas fábricas, redes de varejo e obras de infraestrutura –  ou seja, em geração de empregos. Uma pergunta torna-se inevitável: será que a criação de melhores postos de trabalho deve ser uma preocupação exclusiva dos EUA?

Pablo Solano escreve às terças