Tem coisas que quando ocorrem em nosso quintal, lamentamos a paternidade do desastre.

Ia escrever sobre os processos contra o juiz espanhol Baltasar Garzón, aquele mesmo que prendeu Pinochet, investigou e puniu crimes contra a humanidade na Argentina, ajudou a desmantelar o ETA e por aí vai.

Agora ele é réu no Tribunal Superior da Espanha por haver tentado investigar os possíveis crimes da ditadura de Franco, que começou após uma sangrenta guerra civil de cerca de um milhão de mortos nos anos 30.

Mas uma notícia de Salvador chega para querer demonstrar que os nossos absurdos são realmente mais absurdos que os dos outros.

Ontem foi executado, na Av. Paralela, ao lado do filho de 20 anos, o empresário André Cintra, também conhecido por alguns jornalistas como “Mister X”.

Ele foi informante de casos de corrupção no Judiciário baiano – que acabou em punição para alguns – e denunciava grilagem de terras na mesma avenida onde foi morto e onde tinha um terreno.

Contra o grupo acusado de grilagem, movia uma ação judicial por disputa de terras.

Mas, antes de tudo, transitava bem neste grupo.

Conhecia os corredores do Judiciário, as relações promíscuas entre alguns advogados e magistrados.

Rompeu com o mesmo grupo que depois passou a denunciar. Tinha bom conhecimento do seu modus operandi.

Pois bem, em meio a uma querela com a Sucom – por tentar cobrar taxa de estacionamento em seu terreno ao lado do Parque de Exposições, a contragosto do órgão municipal -, foi assassinado por volta das 10h da manhã de ontem no local.

Não antes de ter sido multado pela mesma Sucom, no início do ano passado, acusado de realizar obra de terraplanagem não licenciada.

Alegava ser perseguido e sofrer ameaças de morte por suas denúncias.

Esse mesmo grupo que acusava exerce forte influência sobre a Sucom, raiz de sua força que se espalha pelo poder municipal.

Da Sucom saíram diversas licenças irregulares para a construção de edifícios na Orla e na Paralela.

Casos que se cruzaram – grilagem e licenças – por ser um dependente do outro – no caso, terras e obras.

Agora o sujeito é morto de repente.

Mas uma coisas é uma coisa e outra coisa é outra coisa.

Podem ser as mesmas, como também podem não ser.

Talvez disso nunca saberemos, ao certo.

O que sabemos mesmo é que merece investigação profunda.

Depende da polícia e dos tribunais…

Vítor Rocha escreve aos sábados