Estas palavras de Richard Wollheim, em seu livro A pintura como arte, fizeram-me pensar em como o estímulo atual e descentralizado a pouca duração da atenção nas coisas visuais – TV, cinema, publicidade… – , estímulo que vem das próprias coisas visuais, é uma maneira indireta de propor que certas formas de expressão são ultrapassadas; em como a ideia de aceleração e superficialidade, bem como a crença no esforço mínimo em troca da intensidade máxima (penso no ato de fotografar compulsivamente e na sua extensão quase natural que é tornar o resultado público, ou no “sou feliz” que as capas de revista vendem: “porque sou magro, porque sou forte, porque sou rico, porque sou loiro…”) nivela as situações da experiência humana pela capacidade de cada uma delas de “dar retorno”, de causar estímulos de fácil compreensão no corpo e nos olhos (comida açucarada em embalagem colorida); e também no jeito como tudo vira objeto de troca em um jogo econômico cuja única faceta é a financeira, onde nada se cria e tudo se consome:
“Revendo obras que já conhecia ou, em alguns casos […] vendo uma obra pela primeira vez, desenvolvi um modo de olhar pinturas que me tomava muito tempo e me era profundamente gratificante. Pois me dei conta de que frequentemente ficava uma primeira hora diante de uma tela deixando assentar vagas associações ou percepções enganosas, e só depois de observá-la por um tempo equivalente ou ainda maior, é que podia esperar que a obra se revelasse a mim tal qual era”.
* * *
Pequena estória do dia da mentira.
Condenado a morte, o filósofo foi chamado à presença do rei, que lhe disse:
– Sou justo. Dar-te-ei a chance de escolher como morrerás.
O rei continuou:
– Fala. Se contares uma mentira, serás enforcado. Se contares uma verdade, serás guilhotinado. Fala.
O filósofo falou:
– Eu não vou ser guilhotinado.
Diego Damasceno lê e reconta às terças
1 comentário
Comments feed for this article
abril 2, 2013 7:49 am às 7:49
Leo
Diante desta excitação máxima e superficial, um texto de mais de 100 anos atrás:
“Assim como uma vida desmedida de prazeres torna blasé, porque excita os nervos por muito tempo em suas reações mais fortes, até que por fim eles não possuem mais nenhuma reação, também as impressões inofensivas, mediante a rapidez e antagonismo de sua mudança, forçam os nervos a respostas tão violentas, irrompem de modo tão brutal de lá para cá, que extraem dos nervos sua última reserva de forças e, como eles permanecem no mesmo meio, não têm tempo de acumular uma nova. A incapacidade, que assim se origina, de reagir aos novos estímulos com uma energia que lhes seja adequada é precisamente aquele caráter blasé, que na verdade se vê em todo filho da cidade grande, em comparação com as crianças de meios mais tranquilos e com menos variações.” (SIMMEL, As grandes cidades e a vida do espírito)