“La esperanza le pertenece a la vida,
es la vida misma defendiéndose”
(Julio Cortázar, en “Rayuela”)
Rubem Braga, em uma de suas tantas crônicas maravilhosas, daquelas adornadas de poesia e delicadeza, relata uma separação sem despedida, e a tristeza que ela trouxe.
“Talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perda da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão”, diz o mestre. E completa: “não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.”
Será permito guardar uma “leve tristeza” e uma “lembrança boa”, anota o velho Braga. E amparados em ambas, digo eu, como se fossem duas muletas, há que se carregar, como for possível, o peso imenso da ausência.
Não há protocolo a ser seguido quando se trata de uma separação. Mesmo a ausência de uma despedida não garante que a dor seja menor; pode, sim, alimentar uma ilusão de que se deu porque assim quis a vida – o que, dependendo do ponto de vista, resulta menos ou mais triste.
Tenho pra mim que o pior que há numa despedida é que ela já leva consigo uma saudade – e uma dor – antecipadas. Nem foi dito o adeus e já estamos a pensar como sobreviver sem aquela(s) pessoa(s), sem aquele lugar – ou pior, sem ambos. E nesse momento parece ser que será impossível seguir a vida com esse vazio.
Pode ser tão dilacerante a ponto de levar-nos a pensar que melhor seria nunca ter acontecido. Mas perdoemos os magoados, porque eles não sabem o que dizem. Melhor seria, isso sim, nunca ter que dizer adeus. Porém, a eternidade não existe (e caso existisse seria uma chatice). Há que, sem tragar demasiado rancor, acostumar-se com a ideia de o que foi já não será.
Por fim, talvez fosse melhor mesmo esquecer aquela última mensagem, aquele telefonema no meio da madrugada, como sugere o cronista dos cronistas. Assim fica a ilusão de que foi como em um baile de carnaval e se carrega a esperança de que um dia, talvez no próximo fevereiro, haja um reencontro e que, de mãos bem dadas para não se perder mais, se seguirá, em companhia, o cordão da vã alegria.
Ricardo Viel se despede nesta segunda
2 comentários
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dezembro 3, 2012 9:21 am às 9:21
Bebel Abreu
Tão lindo ler que as palavras de tio Rubem, irmão de Vovó Gracinha, emocionem a tanta gente mesmo depois de sua partida – ele se foi e elas ficaram, claro, são para isso e sempre serão. Em 2013 Rubem completaria 100 anos, e a data virá direito a festa e homenagem de escola de samba – para celebrar a delicadeza e a ‘ranzinzice’ do velho urso.
Boas férias! Bebel
dezembro 3, 2012 9:32 am às 9:32
Ricardo Viel
Bebel, não imaginas a alegria que me dá ler tua mensagem. Rubem Braga é um mestre, mesmo; meu e de muitos amigos que se aventuram em escrever. O “tio Rubem” tinha uma doçura, uma delicadeza na escrita… fazia poesia em crônica diárias. Fico besta de pensar que ele escreveu por décadas, diariamente, e conseguiu ser genial quase sempre.
Obrigado pelas palavras. Fez a minha despedida muito menos dolorosa.
Um beijo