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A última havia sido em 2002 e a próxima será em 2022. Sempre assim, a cada dez anos a Sight and Sound publica sua lista dos 250 melhores filmes do mundo de todos os tempos para sempre.

Mês passado saiu a de 2012.

Vinte e oito filmes de ficção apareceram antes do primeiro documentário: Shoah, de Claude Lanzmann.

Não à toa, é francês.

Não à toa, o tema é o holocausto.

Não à toa é um filme que inverteu perspectivas históricas, minou concepções cinematográficas e que mostrou quão complexa e indireta é a relação entre cinema e realidade.

Shoah pensa o holocausto de modo diametralmente oposto a um até então clássico inabalável, o também francês Noite e neblina, d’Alain Resnais e Jean Cayrol. Usa a entrevista como contraponto à imagem de arquivo. E é mais um filme que parece dizer que, depois da Segunda Guerra, o mundo não poderia mais ser o mesmo.

Filmes americanos têm 14 votos em 50. Franceses, que entre os 30 tomam de 8 a 5 de Hollywood, veem a diferença crescer de 1 voto: chegam a 10.

Os 10 mais são mais divididos. Fora os quatro americanos (Ford, Welles, Hitchcock e Kubrick), há um japonês, um francês, um alemão, um russo, um italiano e um dinamarquês – Ozu, Renoir, Murnau, Vertov, Fellini e Dreyer.

Mas não estaríamos perdidos se fosse: Kurosawa, Godard, Lang, Eisenstein e Antonioni.

Em seu país acho que Dreyer não disputa com ninguém.

Até onde fui na lista, o mais espantoso é o caso de Tarkovsky: dos 11 filmes que realizou, três aparecem antes de contarmos até 30.

Alguém deve se espantar (positivamente) que nenhum deles seja Solaris ou A infância de Ivan. Se esses são o que são e ficaram mais embaixo, imagine os que ficaram em cima.

Pois talvez revele-se aí o secreto mecanismo afetuoso das listas: contra a lógica de votar no melhor (independentemente do autor), vence o pendor votar nos melhores (necessariamente de vários autores). Mesmo que todos os filmes de Tarkovsky fossem melhores que, digamos, os de Godard, o coração parece não admitir incluir tudo do primeiro e excluir tudo do segundo. Busca-se um equilíbrio.

Revela-se aí o mecanismo afetuoso das listas de cinema (“a critica é a arte de amar”, disse Jean Douchet): listar é praticar um tipo de justiça que não é a dos homens, mas a das mães: agradar a todos que se ama, mesmo que uns provoquem mais e diferentes formas de amor do que os outros.

Diego Damasceno escreve às terças

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