Segunda passada foi um dia estranho. Acordei cedo e liguei a TV, mas diferente da doce rotina das últimas semanas, não havia competição esportiva para assistir. Nada de canoagem, badminton, taekwondo ou circuito BMX. Era hora encarar a realidade: Londres 2012 ficou pra trás, virou história.

Sim, sou destes que se refestela no sofá, esquece o mundo em volta e mergulha na aventura mitológica dos heróis modernos. Não apenas para acompanhar a busca pelos limites do humano, a competitividade cavalheiresca de Coubertin e as novas lendas do esporte. Principalmente para conhecer novas estórias. Sou um amante de fábulas, de Esopo a La Fontaine, e acredito que atualmente as fábulas transcenderam o sentido alegórico, se humanizaram a tal ponto que estão evidentes em muitas situações cotidianas. As Olimpíadas são um evento de magnitude ímpar justamente por convergir essas estórias fantásticas para um centro comum, um local mítico. Londres foi, por algumas semanas, a nova Olímpia.

Não há como não admirar os feitos de atletas como Usain Bolt, vencedor das provas mais rápidas e nobres do atletismo, que ainda encontra tempo para papear com uma voluntária antes da prova ou energia para comemorar a vitória com três suecas do handebol. Ou Michael Phelps, com mais medalhas que muitos países em um século, mas que não abre mão de uma boa farra para relaxar em seus momentos de folga. Autênticos mortais agraciados com poderes meta-humanos.

Não há como não se emocionar com a superação de atletas como Oscar Pistorius e  Dong Hyum Im, para quem limites físicos estão longe de ser incapacitantes. É difícil achar alguma explicação para os feitos do Sul-Africano e do Coreano. O mais plausível é admitir que nossas principais limitações estão na mente.

O choro indignado da sul-coreana na esgrima ou o choro emocionado do corredor brasileiro após a maratona – mesmo sem medalha, apenas por conseguir a melhor marca da sua vida contra um tempo adverso – são como o néctar e a ambrosia que servem de alimento dos deuses. O esporte existe para isso. Esporte não é constituído de perdedores ou vencedores apenas.  É muito mais que isso. É a luta pelo sonho de fazer o melhor e superar as adversidades.

Adversidades que no Brasil existem mais em função do mau funcionamento das autarquias, que do talento que brota em nossas fileiras. Bons resultados foram trazidos de Londres graças ao repasse dos recursos da lei Piva diretamente aos atletas através de entidades não governamentais. As farras patrocinadas pelo COB e pela CBF privilegiam poucos e produzem expectativas que descambam na prata amarga do futebol masculino.

E de todas as lições que as olimpíadas de Londres nos deixou, uma especificamente falou diretamente a mim, porque sempre nos parece mais particular aquilo que remete a situação que vivemos. O brado das medalhistas Sarah Menezes e Adriana Araújo, nordestinas arretadas, por sua terra. A piauiense com a medalha de ouro no peito contrapôs-se ao senso geral e declarou: “Do Piauí não saio, do Piauí ninguém me tira”, demonstrando que existe Brasil – perdão mestre Nelson – além dos casebres do Méier.  A baiana Adriana desferiu seu mais poderoso golpe contra o presidente da Confederação Brasileira de Boxe, não citarei o nome para não estragar o texto, ao refutar o desejo da confederação de treinar em São Paulo. Ora, se seu treinador, sua academia e seu povo, seu combustível estão aqui, porque abdicar disso?

De lá de Londres meu compadre Vítor Rocha, acompanhando in loco as competições, me pergunta sobre as perspectivas de nossa Bahia. Diante de minha resposta pouco animadora, a aconselhar para que não volte, ele refuta, tal é o seu desejo de retornar.

-Porque se a saída de todos for deixar a cidade, o que será dela? Nosso lugar, nossa história….

Pensando bem Vítor, você está certo. Nosso lugar, nossa história… Nosso Olimpo.

E não há sonho mais lindo que sua terra. Vale mais que ouro.

                                                                                                                                                                                          Alex Rolim escreve às quintas-feiras