Chega um momento na vida em que suas coisas não cabem mais no seu quarto. Isso porque ele virou uma mini casa, com quadros, móveis, livros e bibelôs amontoados, colecionados durante os inesquecíveis 20 e poucos anos de vida. O lugar onde você dorme já é menos um quarto do que um quebra-cabeças sentimental.

É aí que você se dá conta de que precisa estar na sua própria casa, seja alugada, dividida, comprada ou dada de presente. É o que os seus amigos chamarão de começar a vida de adulto.

Como passamos boa parte do tempo nos definindo por nossas coisas, esse também costuma ser o momento em que temos certeza de que as coisas vividas e as mudanças que elas provocaram não cabem mais na vida que levávamos até então. Seu espaço é muito pequeno para você.

Talvez por isso sejam tão estranhos os primeiros dias (e, em especial, as noites) na sua primeira casa. Com pouco mais de uma cama, uma estante, eletrodomésticos básicos (quando muito) e muitas caixas, seu mundo parece pequeno, muito menor do que o espaço que você achava que seria ideal.

É aí que você descobre que, se o último quarto enchia as suas noites com as coleções da vida que você viveu até então, a primeira casa te mostra o que ainda é preciso viver. E é um pouco assustador.

Decorar a sua primeira casa não é trocar as cortinas, mudar a cor das paredes, colocar pôsteres novos. É preenchê-la com tudo aquilo que você ainda não sabe o que é. É descobrir as cores, os modelos, o conforto, as combinações que te farão sorrir todos os dias e as que podem te encher em alguns meses. E tudo isso começa no deserto da sua inexperiência consigo mesmo.

Mesmo com blogs de decoração dizendo tudo o que você pode ter barato, fazer rápido e gostar à primeira vista, preencher uma casa não é fácil. Eles são como o antigo “quero tudo da Barbie”. Às vezes me basta olhar as imagens e fingir que tenho, porque não sei se saberia o que fazer com aquelas coisas.

Volta e meia me sento para escutar o eco da minha casa parcamente preenchida e fico esperando que ela me diga o que quer que eu faça, que eu seja, que eu viva. Ela nunca responde. Esta é a parte da vida de adulto que não está nos blogs de decoração.

* Camilla Costa escreve às quintas