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Quando aquela chuva fina de Paris começou a cair mais devagar, a ficar branca e a virar gelo, vencendo a resistência do vento gelado, os olhos daqueles três brilharam para anunciar as lágrimas apertadas pelo riso de alegria e surpresa.

Era a primeira vez que víamos a neve. E logo ali, numa ponte sobre o Sena com a Dama de Ferro ao fundo e acompanhados de duas russas dessas grandes amigas de um par de dias de viagem.

Uma delas era da Sibéria, onde aquela nevezinha nem de neve a chamam.

Voltei a ver Paris sem ter ido lá sob a bela ótica de Woody Allen, que a prefere sob chuva em seu novo filme.

Foi na última cena de Midnight in Paris, que assisti numa sala pequena e simpática da Plaza España, que tive a ideia de contar essa história.

Ao sair do cinema, apesar de nunca mais ter visto aquelas ‘amigas’, a ideia foi reforçada por uma sensação.

Com a cabeça tomada pela lembrança e com vontade de refrescar um pouco mais a memória, busquei um bar naquela rua de los Heros.

Passei em frente a quatro deles, mas voltei para o primeiro simplesmente porque tive a impressão, sem nenhum motivo explicável, de que aquele tinha a melhor onda.

Entro e encontro duas garotas, olhos verdes, admiradas por minha cor e comentando sobre meu cabelo crespo e mais alto do que gosto, mas mais baixo do que todos imaginam como habitual.

Se nota nos olhos alheios a vista de estranhamento e admiração quando tem a consciência de que é, você mesmo, gente diferente.

Elas eram russas, iguais àquelas de Paris que há pouco recordava, e muito simpáticas.

Mas nesta Madri de onde escrevo, ao contrário da Cidade Luz chuvosa, fazia calor.

E começamos um diálogo amistoso, mas me distraí quando vi do lado de fora daquele bar cubano umas gotinhas de chuva ganharem coloração branca.

Será que vai nevar?

Vítor Rocha escreve aos sábados

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