Dentre as muitas artes que não domino, como a de fazer amigos e influenciar pessoas e a de escrever textos sucintos, está a de me descrever. Coisas que para a maioria dos meus pares, que precisam elaborar pelo menos cinco perfis diferentes para cada site de rede social de que participam, parecem simples, para mim são aterradoras.

Nas redes sociais, minhas “bios” transitam entre frases soltas de filmes ou músicas, links para perfis agregadores como o flavours.me e o completo silêncio. Escolho as minhas frases com cuidado, que não me tomem por essas que ficam pegando qualquer fala de Pulp Fiction.

De uns tempos para cá me dediquei a pesquisar diversos tipos de perfis na internet, a ver qual deles faria sentido para mim. Descartei frases de motivação do tipo “Vivo a vida intensamente e não estou nem aí para o que você pensa de mim” e as enigmáticas (“Tem que conhecer pra saber!”). Descartei as indiferentes (“sou só uma pessoa”) e as definitivas (“jornalista”).

Entre os 11 e os 17 anos, eu tinha um lenço de papel (não me perguntem por que um lenço de papel) onde escrevia somente as palavras ou nomes de coisas que significavam muito, ou que eu achava que poderiam me definir.

Naturalmente, decidi jogar o lenço fora em um dia de lucidez, levemente envergonhada por algumas coisas que estavam escritas ali. Não direi o conteúdo, basta que soubessem que o lenço continha o nome de um certo filme sobre um certo desastre marítimo, por exemplo.

Fato é que, desde então, desisti também das auto-descrições que são uma espécie de elenco de palavras soltas que devem simbolizar a sua vida e interesses. Fulana. Café. Banda tal. Assunto X. Série Y. Hábito N. Objeto H.

Uma descrição sincera diria: Meu nome é Camilla. Eu não sofro de falsa modéstia, mas de uma dificuldade crônica de enxergar meus caminhos e capacidades. Eu quero que gostem de mim. Me aplico punições psicológicas quando vejo que pessoas semelhantes a mim já fizeram coisas mais relevantes do que eu. Quero tudo da Barbie quando a Porta da Esperança se abrir.

Outra, que  pode soar pretensiosa, mas que me agrada, seria elencar palavras de que eu gosto. Razbliuto. Augenblick. Breathtaking. Patidifusa. Fabuloso. Paspalho. Yatik. Rhapsody. Partícula. Gnu. Albatroz. Capullo. Nervst.

Não que minhas características, aspirações e realizações sejam grandes demais para caber em espaços diminutos. É que me falta a capacidade de valorá-los. E agora, sites, formulários para vagas em empresas, em universidades e até em palestras te pedem que você saiba bem quem é, de onde vem, para onde vai, o que pode fazer pelo mundo e o que já fez.

Disfarço a angústia de não saber em certeza de vendedor da Polishop. Faço minhas as palavras do primeiro roteirista que me vier à cabeça e sigo improvisando.

* Camilla Costa escreve às quintas-feiras