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No fundo passava um rio. Fino, porém rio.

Da beira da varanda da casa vermelha não se enxergava o início dele, via-se somente o corpo, curso de pequeno volume, pouco barulhento. Confidente.

Findava na queda do cipó, onde este se amarrava nas nuvens.

Nas primeiras horas da manhã teimava em fazer risada.

Quando chorava, formava a alegria das margens e a tristeza das formigas.

Nunca se soube o porquê de se chamar Capube.

O rio vinha pra dentro de casa pelas mãos de vovó, quer pelo banho no chão da casa, quer pelo bordado.

Quando saía do meu canto, teimava em levá-lo no bolso – moedas de água.

Era verde de todo lado e transparente no que fosse dentro.

Era reflexo, como quando olhei de mim e achei você. E foi o meu segredo.

À tarde era hora de mimo com os corpos: nunca rejeitava o que quer que viesse do nosso movimento.

Abraçou-nos como o céu da boca abraça um pedaço de jambo.

Que alguém tinha o Capube por lá por cima ou lá por baixo, nunca pudemos dizer de verdade.

Como vinha sempre e ia sempre e nunca nos deixava, ele era nosso coubesse ou não dentro da cerca.

Virava noite com a noite. E ninguém se arriscava. Não que fosse traiçoeiro, mas era o momento dele e ai de quem não respeitasse.

No fundo de casa passa um rio chamado Capube.

E cada vez mais ele é um de nós, que já ouvi meu pai dizer “se ele morrer morremos todos”.

A casa é vermelha, o campo nem é tão vasto.

Mas temos o Capube dentro do limite de nós. E isso já é a grande-certeza-de-que-não-ficaremos-apartados-da-beleza.

*Carmezim escreve às quartas

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