O pastor disse pra não sair de casa, de jeito nenhum. Não fosse dar de mão beijada pra outra o que tinham construído juntos com tanto esforço. Jussilene concordou sentindo-se revigorada, mas não a ponto de conseguir parar de chorar. Ficou ainda um tempo sentada na cadeira de plástico da igreja juntando força. O que queria mesmo, se não fosse pecado, era um milagre como dormir e acordar numa vida totalmente nova.
De manhã tinha visto a mensagem que ele mandou por engano pra seu celular, marcando o encontro com a possuída. Já sabia de tudo, mil vezes tinham lhe contado, mas ela conseguia fingir bem que não acreditava. Dessa vez foi mais difícil, por isso depois do culto resolveu conversar com o pastor. Ia seguir seu conselho, mas já tomando o ônibus pra ir embora reparou na tristeza grande de estar presa.
Enquanto passavam as placas, as luzes, os outros carros, lembrava de seu primeiro namorado, Luizinho. O mesmo que trocou por esse traste que dizia coisa bonita e mandava flor e se despedia sempre falando que ela era dele e que isso não tinha discussão no mundo. Se tivesse advinhado.
Outro dia a mãe encontrou com Luizinho na rua, nunca tinha casado, não achava mulher que durasse. Eu gostava mesmo era de sua filha, D. Lourdes, a mãe contou pelo telefone. Sonhou em voltar pra Juazeiro pra morar mais ele, pedia perdão e mostrava cara de arrependimento. Mas sabia já que o resultado ia ser amanhecer morta com o lençol cheio de sangue.
Sentiu um arrepio e fez força pra afastar o pensamento. Quando chegou, o marido já tava vendo televisão, contrariado. Devia de estar com raiva praguejando pela moça ter faltado. Gritou da sala se isso era hora de andar na rua, ela disse que estava na igreja. Vá outra hora que não me gaste. Ela fez que sim com a cabeça e foi pra cozinha preparar a janta.
Tatiana Mendonça escreve às sextas
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