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Amora,

Durante todos esses dias, fiz uma lista das coisas que eu queria te dizer. Por exemplo, que lembrei de jogar o tapete fora, aquele que escorregava, e que olhei para o lado rindo quando passou aquela propaganda engraçada, imaginando que você ainda estava lá. Todos os dias significando todos os dias. Ontem eu perdi esse papel. Era amarelo. Talvez esteja no meio das revistas, ou dos livros, ou talvez tenha voado quando eu deixei a janela aberta. Não sei. Estou escrevendo para dizer que não vou procurar por ele nem vou mais inventariar essa saudade.

Mesmo porque descobri que é de mim que eu sinto falta. E talvez também do mundo, da feição leve e possível que ele assumia. Então não tem nada a ver com você. Sou só eu. E o mundo.

Tinha uma coisa que eu anotei na lista, talvez no número 54. “Passei a ler o seu horóscopo junto com o meu para saber onde você está”. Mas isso foi antes, já tem uma semana que não abro jornal.

Enquanto escrevo estou lembrando de um programa que vi na televisão quando ainda era moleque. E você vai rir e confirmar por que me deixou, mas mesmo assim preciso contar. Era uma entrevista com Chitãozinho ou Xororó dizendo o que mais amava na mãe de Sandy & Jr. Ele falou eu gosto quando ela acorda, quando ela abre os olhos. Eu achei isso bonito, mesmo sabendo que não devia. Você vai achar besta, por isso mesmo fui procurar naquele livro que você guarda o pedaço que diz a mesma coisa, mas de outro jeito

De Diadorim ter vindo, e ficar esbarrado ali, esperando meu acordar e me vendo meu dormir, era engraçado, era para se dar feliz risada. Não dei. Nem pude nem quis. Apanhei foi o silêncio dum sentimento, feito um decreto: – Que você em sua vida toda por diante, tem de ficar para mim, Riobaldo, pegado em mim, sempre!… – que era como se Diadorim estivesse dizendo. Montamos, viemos voltando. E, digo ao senhor como foi que eu gostava de Diadorim: que foi que, em hora nenhuma, vez nenhuma, eu nunca tive vontade de rir dele.

Outro dia, antes de tentar dormir, descobri que o que eu mais amava em você era quando você chegava. Quando entrava por uma porta onde eu estava.

Agora, esse é precisamente o problema, não tem mais uma porta por onde você entra.

Mas isso tudo foi antes do papel ter sumido. Hoje de manhã eu passei pela rua e tive vontade de tomar sorvete e fui comprar. E achei o dia não bom, mas bonito.

E depois achei até, Amora, que foi do seu nome que eu sempre gostei mais.

Tatiana Mendonça escreve às sextas

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