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Lanchava sempre sozinha de frente para a parede de vidro, para ver as pessoas passando na rua. E elas olhavam de volta. Naqueles breves segundos entendia muitas coisas: que estava irremediavelmente velha aos 25 anos e como era deprimente trabalhar de uniforme — ou ter que escolher entre comer em menos de quinze minutos e sair usando roupa de gente.
(As pessoas, é claro, andavam pensando nas suas próprias vidas e olhavam apenas por hábito para ver se encontravam algo um pouco pior, mas isso não tinha nada a ver com ela, nada).
Talvez não fosse tão mal assim ser atendente de caixa. Falava com muitos desconhecidos, sorria para estranhos e uma pequena fortuna passava diariamente por suas mãos, o que poderia ser um recado do universo.
(A pequena fortuna, é claro, carecia de melhores parâmetros que centenas de reais amontoados, não mais que isso).
Quando era nova pensava em tudo que poderia ser, mas as possibilidades foram se reduzindo de uma maneira um tanto assustadora, mas não muito, porque ultimamente se esforçava para não pensar nisso. Se repetisse muitas vezes — 15, por exemplo — está tudo bem, está tudo bem, está tudo, está tudo bem terminava acreditando, menos se fosse hora do lanche e ela estivesse de uniforme e as pessoas passassem com aquelas caras de pena.
Então abaixava a cabeça e voltava a devorar a coxinha, o enroladinho e uma sensação de que sua vida estava acontecendo em outro lugar.
Tatiana Mendonça escreve às sextas