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Ela estendeu a mão.

– Uma taça de volúpia.

Ele tremia. A taça de vinho estava bonita na contraluz.
 
– Desde quando taça de vinho é taça de volúpia?

– Meninice sua perguntar. Beba sem fazer careta, é vinho seco, travoso, do jeito que eu sou pra você.  O prazer tem dessas coisas e você vai aprender: nem tudo que é docinho desce feito veludo.

O suor frio da taça se misturou com o suor quente da mão dele. Enrubesceu.

– Desde quando existe esse olhar seu assim, pra mim?

Como podiam ter a mesma idade? Ela mais velha um ano e um pouquinho, mas senhora de dois milhões de anos luz na frente da tremedeira dele.

– Olho quando vejo vida diferente. Sei lá, acho que tem poesia na sua meninice.

– Poesia? Ah, eu faço poesia!  Fiz uma para o seus olhos.

– Essa tá batida. Muitos fizeram. Tem outra, não?

– Fiz também um Soneto da Espera, pra quando fico esperando o barulho do portão e corro pra ver você sair.

– Nada de originalidade.

Ele sentiu um aperto.

– Por que será que quando você diz não, nada, nada de novo, nenhuma novidade, sinto esta vontade súbita de te agarrar e arrancar um pedaço da sua boca de tanto beijo?

– Sei lá, algum feitiço?

Ele sorriu.

– Fiz uma poesia falando de feitiço. Quando você abriu a blusa e disse aquilo. Você lembra?

– Não, não lembro.

Ela lembrava. Perfeitamente.

– Você disse assim: cuidado que aí tem feitiço. Lembrou? Eu quase sufoquei.

– Acho que lembro. Quando vejo sua cara de perdido eu que vou não-sei-pra-onde com uma vontade que não sei dar nome. Não sei, não sei.

– Volúpia?

– Bom é que você aprende rápido.

Ela estendeu a mão com outra taça de vinho seco.

Carmezim escreve às quartas-feiras.

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