Se existe uma razão pela qual eu realmente não gosto de “O Curioso Caso de Benjamin Button” são as obviedades. Me dei conta disso quando vi um vídeo que comparava o filme com outra criação do mesmo roteirista, Forrest Gump.
O vídeo comparava enquadramentos de cenas e aspectos visuais em geral, mas me dei conta de que o meu problema com Button era justamente esse. Assim como Forrest Gump, ele falava obviedades demais.
A questão é que com Forrest Gump funcionava, pelo simples fato de que o personagem era burro. A gente perdoava as obviedades dele porque, afinal, tadinho, ele mesmo era quem estava tentando entender aquela vida maluca, com o pouco QI que tinha.
Na época, sair repetindo que “idiota é quem faz idiotice” e que “a vida é uma caixa de chocolates” era OK. Era só simpatia pelo jumentinho do Forrest, pessoa simples e de bom coração, que nos mostrava os verdadeiros valores da vida.
O conto original de Benjamin Button é uma história interessante, intrigante, assustadora e melancólica sobre morte, vida, aprendizado, etc, etc, coisas facilmente perceptíveis quando se acompanha o desenrolar da trama. O fato de o personagem principal nascer velho e morrer bebê cria situações muito claras de reflexão sobre a experiência humana.
E Benjamin Button, ao contrário de Forrest Gump, não é burro. Por isso, eu não tolerei que ele me explicasse por A mais B cada lição de vida que recebeu em cada momento da vida maluca dele. Eu já tinha entendido. Eu queria pensar sobre isso sozinha, obrigada, Benjamin, cala a boca.
A minha decepção foi perceber que eu sou Benjamin Button. Sofro de um tom professoral crônico e de uma tendência a ser prolixa e dizer obviedades. Isso tudo sempre foi conhecido, é verdade. É uma característica com a qual costumo conviver minimamente bem.
Mas hoje senti que sou percebida como todos os filmes que eu sempre critiquei por me subestimarem enquanto espectadora e tentarem me dar a papinha na boca. Então é isso o que irrita as pessoas no meu tom professoral. Elas assumem que eu acho que elas não têm a capacidade de me entenderem se eu não cortar o argumento em pedacinhos pequenos.
Para me consolar, gosto de pensar que o meu caso é menos de subestimar as pessoas ao meu redor e mais de ter um pavor de não ser compreendida. Sou a chata da clareza. Acredito em exemplos e mais exemplos, reiterações, explicações detalhadas que não deixem margem de dúvida. E olhem que, quando estou do outro lado, até gosto da margem de dúvida.
Eu posso me justificar, e argumentar longamente (muito longamente) sobre como as obviedades também têm o seu lugar e às vezes precisam ser ditas e ouvidas, e é por isso que Forrest Gump e Paulo Coelho fazem tanto sucesso. Isso me ajudaria a ganhar algumas brigas.
Mas eu e Benjamin Button continuamos sem justificativa quando falhamos em perceber que às vezes, mais do que confiar na capacidade de compreensão dos outros, é preciso confiar na sua própria capacidade de comunicar claramente alguma coisa sem usar redundâncias.
Camilla Costa escreve às quintas-feiras
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