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O corpo atinge seu auge dos 30 aos 35 anos, e a alma, por volta dos 49. Esse intermezzo é o auge da vida.
Não sou eu, é Aristóteles quem diz isso, na sua Retórica – não investiguei que idade ele tinha quando escreveu esse tomo. No mesmo volume, ele tipifica o que seriam características dos jovens e dos idosos. Nas pessoas que estão no auge da vida – os adultos – “a temperança vai acompanhada de coragem e a coragem de temperança. Nos jovens e nos idosos estas características estão separadas.”
Ou seja: ser adulto é equilibrar coragem e temperança, é, grosso modo, ser jovem e idoso ao mesmo tempo.
Sinto-me burro nesta semana, incapaz de criar um par de parágrafos que mereçam preencher o espaço da página. Deixo-lhes portanto em companhia da lista que extraí diretamente da obra do Estagirita. Fazê-lo é prerrogativa minha e dos de meu tempo: se por um lado estou longe de ser um Aristóteles, Aristóteles, quando se sentia assim como eu, não tinha um Aristóteles a quem pudesse recorrer para elaborar uma lista e salvar o domingo.
Por isso é que trabalhou tanto, o pobre.
O caráter dos jovens:
– são propensos aos desejos passionais e inclinados a fazer o que desejam;
– são impulsivos, irritadiços e deixam-se arrastar pela ira, por causa da sua fogosidade não suportam que os desprezem;
– não têm mau, mas bom caráter, porque ainda não viram muitas maldades;
– são otimistas porque, tal como os bêbados, também os jovens sentem calor, por efeito natural, e porque ainda não sofreram muitas decepções;
– a maior parte dos jovens vive da esperança, porque a esperança concerne ao futuro;
– para a juventude, o futuro é longo e o passado é curto; no começo da vida nada há a recordar, tudo há a esperar;
– são fáceis de enganar (é que facilmente o esperam);
– são mais corajosos pois são impulsivos (qualidade que os faz ignorar o medo) e otimistas (o que lhes inspira confiança);
– são envergonhados (não conhecem ainda que haja outras coisas belas, pois só foram educados segundo as convenções);
– são magnânimos porque ainda não foram feridos na vida e são inexperientes na necessidade.
O caráter dos idosos:
– têm as suas opiniões mas nada sabem ao certo;
– na dúvida, acrescentam “talvez” e “é possível” e tudo dizem assim, nada afirmam de categórico;
– têm mau caráter, o que consiste em supor sempre o pior em tudo;
– são suspicazes devido à desconfiança, e desconfiados devido à experiência;
– não amam nem odeiam com violência, mas amam como se um dia pudessem vir a odiar e odeiam como se um dia pudessem vir a amar;
– são de espírito mesquinho por terem sido maltratados pela vida.
Ricardo Sangiovanni escreve aos domingos. Ou transcreve quem tenha algo mais útil a dizer