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Havia dois times em campo no domingo, mas alguma coisa (alguns amigos, a namorada, quase toda a família…) me dizia que minha torcida estava do lado errado. Não, não torci contra o Brasil. Torci a favor do Paraguai.
Sei que já caiu no gosto comum odiar a Seleção, Dunga e Ricardo Teixeira contribuindo em larga escala para isso (aquele mais do que esse). Não nego que estive, em 2010, no grupo dos contrários; mas tampouco foi por isso que vibrei no domingo.
Houve um tempo em que torcer para o Brasil era tão imperativo quanto natural. Razão sem razão que ultrapassava motivos como geografia e crença na eficácia do esquema tático e que talvez fosse explicada por, sei lá, a metafísica de Platão.
O dito pelo não dito, o jogo de domingo me colocou de novo diante da pergunta: onde, afinal, deixei o Brasil? Por que, então, o Brasil me deixou?
A certa previsibilidade da partida foi a chance para refazer esse caminho desilusório.
Uma pista do quando: depois da Copa de 2006, eu tinha uma seleção a menos e quatro a mais no coração. Paraguai entre elas.
Restou o porquê.
Mas nem precisei pensar para responder.
É que a poucos minutos do fim segundo tempo, Haedo Valdez faz uma tentativa, o lance mais bonito do jogo. Chutou, errou, lamentou, mas ainda assim sorriu.
Bonito não pelo perigo de gol – a bola passou a uns cinco metros da trave. Não pela destreza – o chute foi fraco. Não pela inventividade – não restava nada a fazer senão isso.
O que torna o lance especial é a expressão de Valdez após o erro. É ele ter visto em um lance ordinário uma grande chance, a maior delas, talvez o passo fundamental que daria ao Paraguai a taça e a Valdez, a glória ultima, herói continental.
Sim, imagino, sim, exagero, mas não, não minto: entre um suspiro e um sorriso, flagrados pelas câmeras, Valdez se permitiu acreditar – por mais que sua jogada, seu time e seu adversário conspirassem veementemente para o contrário.
Depois desse lance renovei meu voto no Paraguai. E assim continuará, enquanto faltar ao Brasil a atitude, o espírito, o sorriso de Valdez.
Diego Damasceno escreve às terças