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Cala a boca, Benjamin
julho 28, 2011 7:00 am in São Paulo | Tags: Benjamin Button, clareza, Forrest Gump, obviedades, redundâncias, tom professoral | by Camilla Costa | Deixe um comentário
Se existe uma razão pela qual eu realmente não gosto de “O Curioso Caso de Benjamin Button” são as obviedades. Me dei conta disso quando vi um vídeo que comparava o filme com outra criação do mesmo roteirista, Forrest Gump.
O vídeo comparava enquadramentos de cenas e aspectos visuais em geral, mas me dei conta de que o meu problema com Button era justamente esse. Assim como Forrest Gump, ele falava obviedades demais.
A questão é que com Forrest Gump funcionava, pelo simples fato de que o personagem era burro. A gente perdoava as obviedades dele porque, afinal, tadinho, ele mesmo era quem estava tentando entender aquela vida maluca, com o pouco QI que tinha.
Na época, sair repetindo que “idiota é quem faz idiotice” e que “a vida é uma caixa de chocolates” era OK. Era só simpatia pelo jumentinho do Forrest, pessoa simples e de bom coração, que nos mostrava os verdadeiros valores da vida.
O conto original de Benjamin Button é uma história interessante, intrigante, assustadora e melancólica sobre morte, vida, aprendizado, etc, etc, coisas facilmente perceptíveis quando se acompanha o desenrolar da trama. O fato de o personagem principal nascer velho e morrer bebê cria situações muito claras de reflexão sobre a experiência humana.
E Benjamin Button, ao contrário de Forrest Gump, não é burro. Por isso, eu não tolerei que ele me explicasse por A mais B cada lição de vida que recebeu em cada momento da vida maluca dele. Eu já tinha entendido. Eu queria pensar sobre isso sozinha, obrigada, Benjamin, cala a boca.
A minha decepção foi perceber que eu sou Benjamin Button. Sofro de um tom professoral crônico e de uma tendência a ser prolixa e dizer obviedades. Isso tudo sempre foi conhecido, é verdade. É uma característica com a qual costumo conviver minimamente bem.
Mas hoje senti que sou percebida como todos os filmes que eu sempre critiquei por me subestimarem enquanto espectadora e tentarem me dar a papinha na boca. Então é isso o que irrita as pessoas no meu tom professoral. Elas assumem que eu acho que elas não têm a capacidade de me entenderem se eu não cortar o argumento em pedacinhos pequenos.
Para me consolar, gosto de pensar que o meu caso é menos de subestimar as pessoas ao meu redor e mais de ter um pavor de não ser compreendida. Sou a chata da clareza. Acredito em exemplos e mais exemplos, reiterações, explicações detalhadas que não deixem margem de dúvida. E olhem que, quando estou do outro lado, até gosto da margem de dúvida.
Eu posso me justificar, e argumentar longamente (muito longamente) sobre como as obviedades também têm o seu lugar e às vezes precisam ser ditas e ouvidas, e é por isso que Forrest Gump e Paulo Coelho fazem tanto sucesso. Isso me ajudaria a ganhar algumas brigas.
Mas eu e Benjamin Button continuamos sem justificativa quando falhamos em perceber que às vezes, mais do que confiar na capacidade de compreensão dos outros, é preciso confiar na sua própria capacidade de comunicar claramente alguma coisa sem usar redundâncias.
Camilla Costa escreve às quintas-feiras