O homem à margem do infinito

Na primeira vez em que Lahcen se perdeu no deserto ele tinha sete anos. Hoje, após mais de duas décadas, o berebere marroquino ganha a vida levando turistas para duas, três noites no Saara, ou em solitárias excursões de dois, três meses no deserto, em busca de meteoritos. Estudioso do céu, Lahcen acredita que em 2029 um meteoro cairá na Rússia, provocará um verão de três anos e será o começo do fim dos tempos. Mas não está preocupado. É que, para ele, homem de carne, osso e areia, o deserto é a margem do infinito; sendo assim, está mais próximo que qualquer um de nós de saber o que virá.

Colombina

Marzia é calabresa e mora em Roma há dez anos. Ela é atriz. Sabe cantar, dançar, andar sobre pernas de pau, e trabalha com animação de eventos porque não consegue viver só de teatro. Apaixonada pela comedia dell’arte, conta que, numa montagem de Cem anos de solidão, valendo-se apenas de movimentos corporais, teve que incorporar Úrsula, e Amaranta, e Remédios, e Rebeca, enquanto atravessava o palco de uma ponta a outra. O anticlímax: nenhuma tempestade varreu a plateia.

A colecionadora de borboletas

Juanita é colombiana. Estuda literatura e é apaixonada por Faulkner. Seu pai era colecionador de borboletas, mas Juanita, amante das letras e prova de que algumas teorias freudianas estão certas, coleciona apenas os nomes para designar borboleta nas variadas línguas. Mariposa, papillon, farfalla, butterfly, tagfalter, sommerfugl… Conheci-a em Oslo; era primavera e não havia nenhum vestígio de borboleta nos bosques e parques da cidade.

Breno Fernandes é o convidado especial dos sábados, enquanto Vítor Rocha estiver de licença-prêmio