Encorajado pelo nobre gesto do dominical Ricardo Sangiovanni, que recentemente expôs com o brilhantismo habitual sua proposta para um novo regime de trabalho no país, decidi também tornar pública uma ideia que há anos venho lapidando com a ajuda de amigos (alguns serviram, mesmo, de inspiração) e que, estou seguro, se colocada em prática irá melhor a convivência entre nós, os seres humanos.

Em linhas gerais, trata-se da criação de um imposto sobre a chatice. Proposta que em princípio pode parecer esdrúxula, mas peço a você, agradável leitor(a), que não clique no X que se encontra no canto superior direito da sua tela antes de conhecer um pouco mais desta singela sugestão.

Há neste país (e, por que não dizer, no mundo) uma enormidade de pessoas que são, ou em determinados momentos se comportam como, inoportunas, pesadas, desagradáveis, é dizer, são CHATAS – assim, em maiúscula mesmo. A chatice de alguns incomoda a nós, permita-me caro leitor(a) incluí-lo(a), os agradáveis, oportunos, leves, é dizer, as pessoas legais. Muito melhor seria viver em um mundo repleto de pessoas como nós, verdade?

Ocorre que, em muitos casos, quem é chato não sabe que o é. Sim, há, é claro, o caso das pessoas que são, por opção ideológica, desagradáveis. Há, até, os que ganham a vida com esse distúrbio – cito apenas um caso, que serve para ilustrar: Fausto Silva. Pois bem, sobre o tratamento em relação a essas pessoas, se assim quiserem, um dia falaremos. Adianto que elas não estarão isentas da tributação.

Excluídos os chatos conscientes e os profissionais, passamos aos segundo grupo: os chatos ignorantes (no sentido de desconhecimento). Esses, se tivessem que pagar impostos por suas condutas, pensariam duas vezes antes de realizá-las.

Faz-se necessário neste momento um esclarecimento. A punição, exceto raros casos (como a pena de morte), tem também um caráter pedagógico, ensinam os livros de teoria do direito penal. Ou seja, pune-se para que o infrator reflita sobre o ato e não volte a repeti-lo.

Portanto, a tributação sobre a chatice visa, em primeira instância, a ressocialização. Desta forma, com o dinheiro arrecadado com o ISC [Imposto sobre a Chatice] serão construídos centros de tratamento para fazer com que os chatos se tornem pessoas como nós, agradáveis.

Os chatos que não quiserem se tratar, apenas pagarão a multa, tendo em vista que vivemos em um país democrático. Contudo, os que optarem pelo tratamento, terão como benefício o perdão de 50% da multa – valor que terá redução progressiva a partir da primeira reincidência.

A verba também será destinada a campanhas que terão por objetivo conscientizar a população sobre os sintomas e os malefícios da chatice.

Pois bem, oportuno e sagaz leitor(a), você deve estar se perguntando: como seria identificada uma conduta passível de tributação? Brilhante questionamento.

Em linhas gerais, haveriam comportamentos pré-estabelecidas como passíveis de punição. Exemplo: envio de e-mails com PPSs, o uso de trocadilhos infames, a venda de rifas e as festas juninas nas firmas em horário de trabalho. Nos demais casos, caberá às juntas que serão criadas, compostas por pessoas agradáveis e de bom-senso, o julgamento de cada um deles.

O órgão colegiado que estará acima dessas juntas, além do julgamento de possíveis recursos, terá como função a criação de listas vinculantes, com vista a acelerar o processo de punição e, por consequência, o tratamento do infrator.

O projeto que em breve pretendo apresentar às autoridades prevê também a criação de canais para denúncias anônimas.

Prevê, ainda, a criação de espaços destinados especificamente aos chatos, que seriam chamados de chatódromos. Os cinemas teriam que destinar 10% das sessões de seus filmes para o público desagradável, que, nesses ambientes, estaria livre para praticar suas chatices sem risco de punição. Nos bancos seriam criadas filas especiais (uma só para puxadores de assunto). Nos ônibus e no metrô, áreas para que se ouça música no celular sem fone.

Vislumbro, também, a possibilidade da adoção de ambiciosos planos de metas para a erradicão deste mal. Imagine que lindo seria você ingressar em uma cidade qualquer, a bela Lins, por exemplo, e se deparar com uma placa com os seguintes dizeres: Lins, a primeira cidade do país livre da chatice. Claro, seria necessário criar um selo de qualidade, contratar uma auditoria independente para a certificação, mas estaríamos gerando emprego e pensando no bem-estar de todos.

Leve leitor(a), peço desculpas por ter me estendido na explanação, mas tenho certeza que você, sensata pessoa que é, não se aborreceu. Caso a opinião seja contrária, cuidado, você pode ser um pagador de impostos em potencial.

Ricardo Viel aborrece escreve às segundas