O texto de hoje, segunda-feira 11 de julho de 2011, estava pronto. Preparado para ser publicado. Mas ontem, domingo, abri a revista Piauí deste mês para ler uma nota sobre um livro de Julio Cortázar [1914-1984] recentemente publicado. São cartas que o escritor argentino mandou, durante décadas, a um amigo poeta residente em Buenos Aires.
Uma das mensagens me chamou especial atenção.
É o embrião da ideia que Cortázar desenvolve no prólogo de Histórias de Cronopios e Famas. No livro, ele nos instiga à insurreição diante do fatalismo da rotina, a evitar o suicídio a conta-gotas que praticamos diariamente. E ensina que isso pode ser feito sem grandes esforços, procurando sentido nas pequenas coisas (como na consistência de uma colher). Nos ensina a “jogar a vida enquanto se avança, passo a passo, para ir comprar o diário na esquina”.
Depois de ler o trecho que abaixo reproduzo, me senti quase que obrigado a compartilhar com quem gosto, gente que penso que vai ler isso, essa receita de Cortázar. A vontade que tenho é de propor um pacto, um pacto entre nós, para que tentemos colocar em prática a proposta apresentada pelo escritor. Uma forma de celebrar a vida, de se comprometer a admirar o espetáculo do mundo e de desfrutar, diariamente, das maravilhas que nos cercam. E fazer com que cada encontro nosso seja único, o primeiro e o último. Enfim, para que amanhã não seja só a repetição de hoje. Para que o dia de hoje seja só isso (seja tudo isso!), o irrepetível dia de hoje.
Beijos e até a semana que vem (com o texto que era para o ser de hoje, se uma nova ideia não me perturbar).
“Já estou aqui [Paris] há quatro meses e, ontem à noite, ao fazer um balanço mental do período, percebi a familiaridade incrível com que me movo neste mundo. É aí que está o perigo. É agora que devo vigiar minha visão, a forma de me colocar diante de coisas que venho conhecendo cada vez melhor; é agora que devo impedir que conceitos escamoteiem minha vivência. Seria terrível eu ter que passar um dia às pressas diante de Notre Dame [não me aconteceu, por sorte] e só dar aquela olhada distraída que se dedica a bancos ou a casas para alugar. Quero que a maravilha da primeira vez seja sempre a recompensa para o meu olhar[…] Nós riamos dos turistas, mas eu juro que quero ser turista em Paris até o fim, ser o homem que anota na agenda: quinta-feira, ir ver o são Sebastião, de Mantegna […] Eu gostaria que Paris se entregasse a mim sempre como a cidade do primeiro dia. Estou aqui há quatro meses: mas cheguei ontem de noite, chegarei outra vez esta noite. Amanhã será meu primeiro dia em Paris.”
Ricardo Viel acredita escreve às segundas
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