Há uma frase genial que diz: “Pior que o doido, só o incutido”, também sendo encontrada a variação “Incutido é pior que doido”, o que dá no mesmo. Infelizmente, não posso prestar reverência ao autor registrando aqui seu nome e sobrenome, porque o desconheço. Muito provavelmente, é desses ditados que vencem o tempo, sendo repetidos em muitas gerações, bastando-se por crédito a impagável sabedoria popular.

Pois se doidos muitos nos livramos de ser, sendo grande massa para fins práticos considerada quase normal, do incutimento ninguém se livra. A música-chiclete e os vídeos no youtube não estariam apenas explorando esta triste condição humana?

Havendo uma escala de incutimento, como a Richter, dos terremotos, eu estaria nos níveis mais alarmantes. Muitas vezes tento me convencer da obviedade de que nada precisa do meu aval ou consideração para seguir existindo, mas é uma tarefa difícil. Daí então que, como incutida, poderia incutir-me de fazer um tratado sobre o Desencutimento, o que pode – ou não – dar certo. Tentarei.

O serial-incutido é alguém que se demora muito a pensar em tudo – ideia, obra ou pessoa – como se cada coisa carecesse de um tratado, nunca antes elaborado. É uma persistência aleatória sobre os mais variados temas, que muitas vezes o acompanha até nos sonhos ou pesadelos, reprisados por muitas noites, às vezes até semanas. É, em resumo, um ser permanentemente assediado por pensamentos obsessores.

Mas o que realmente queria dizer é que alguns povos podem, por genética, ser mais incutidos que outros. Há tempos fui entrevistar o historiador Jaime Sodré e ele disse uma frase linda, que era assim: “Os escravos faziam questão de festejar porque sofriam, e remédio pra sofrimento é alegria”. Enquanto isso os europeus (vamos generalizar de maneira bem rasteira) gastam muito tempo incutidos em sua tristeza, futucando até não poder mais, fazendo muitas maravilhosas alegorias em forma de livros e filmes e canções que mostram lentamente como somos infelizes e sem rumo. Claro que há muitas outras relações e explicações possíveis para tal fenômeno. Posso, se nada mais aparecer, refletir  longamente sobre isso.

Tatiana Mendonça escreve às sextas