El olvido está lleno de memoria
Mario Benedetti

El olvido es una forma de recuerdo
Jorge Luis Borges


No ápice do amor, ele deu a ela um vaso com rosas. Plantinha pequena, daquelas que parecem que vão morrer no dia seguinte. Durante meses, a roseira floriu, já quase não cabia no espaço destinado.

Ele dizia que a flor representava o amor entre eles e por isso crescia tanto. A resposta dela era sempre (e apenas) um sorriso.

Até que um dia, a planta e o sentimento dela por ele murcharam. Do mesmo jeito que chegou, ela partiu. Não deixou bilhete, não pegou os discos e nem as fotos, e abandonou a escova de dente pendurada no armário do banheiro.

Para conseguir sobreviver, ele apagou todos os rastros dela pela casa, mas não teve coragem de jogar fora a roseira. Deixou-a embaixo da pia, sem água nem luz.

O vaso permaneceu no degredo durante meses, até que um amor passageiro passou pela casa e quis saber por que aquela planta estava esquecida na despensa. Continuava viva, florida e colorida.

Amor que não morre não dá espaço para amor novo, pensou ele. Foi o que aconteceu. Seguiu só e sem aguar a planta, mas já tinha por ela algum carinho. Às vezes ia visitá-la em sua reclusão. Vez ou outra, as flores caiam, parecia que a planta havia morrido, mas logo renascia.

Por fim, ele entendeu que aquele amor, como a roseira, tinha vida própria e se alimentava de cheiros, palavras, livros e lugares. Cada vez que ela, onde estivesse, se lembrava dele, a plantinha ganhava sobrevida. Cada vez que ele, traído pela razão, pensava nela, o vaso era abastecido de água e luz.

Afinal, quanto dura um amor que não deve ser alimentado? E uma planta? Frequentemente ele se faz essa pergunta. Ainda não encontrou a resposta.

Ricardo Viel escreve às segundas