Chegava o verão, eu viajava para as margens do Rio Preto e ele uivava como um lobo, saudoso do seu amigo. Já era velhinho, joelho inchado, sem um olho, pêlo marcado, mas ainda carregava aquela alegria que o seguiu por seus muitos anos de vida. Fiz a promessa de um dia honrar o seu nome: Floyd.
Era um cão raçudo, apesar de estar na classificação dos “sem raça definida”, e as vezes passava cinco dias sumido. Sempre o encontrava insaciável atrás de um cio da redondeza e em muitas ocasiões já acomodado em novo lar.
Figura simpatissíssima, querida por todos, usava isso para conquistar não só as presas, mas também seus donos, que lhe abriam as portas de casa para o acasalamento. Vivia solto, vagando, e fazia o estilo aventureiro boa praça. Na correlação com o homem seria aquele barba rala com um leve sorriso encorajador e contador de histórias.
Quando eu voltava para casa, ele me recebia em êxtase, pulava sobre o sofá e emendava suas aventuras diárias. Seus olhos, sua respiração acelerada com a língua de fora e seu rabo a balançar em frequência 1.236 vezes/min comunicavam os mais loucos episódios da espécie canina. Histórias ilimitadas, nunca repetidas.
Seu nome era uma referência clara ao Pink Floyd. O registro no cartório foi obra dos donos da mãe, meus primos queridos e outrora fãs incondicionais dos músicos. Eu sempre gostei mais de Floyd, o cão, do que da floidiana banda.
Mas havia a promessa e surgiu a oportunidade. Roger Waters apresentava The Wall 31 anos depois de lançado, justo o álbum de que realmente gosto…
O ingresso custava 91 euros, estava esgotado e tentei comprar na hora com cambistas. Um inglês em igual situação diz que viu dois por 150. Buscamos, já não estava. Por coincidência, cheguei ao setor de produção, onde a imprensa sacava as credenciais. Meu nome não estava na lista, claro, não havia solicitado.
Mas aí veio o espírito Floyd.
Pê pê pê, pá pá pá com um cara da produção, ele me diz que, óbvio, já havia acabado o período de acreditação, mas eu o suplico (cara de cachorro pidão) uma ajuda a um amigo aventureiro, barba rala…
O universo conspira. Pedido atendido, o custo é apenas, e o que não é pouco, a solidariedade no mundo, bandeira que compartilho e incentivo. Roger Waters também, porque foi um show mistura de cinema, instalação e música. Tudo ensaiado por 31 anos. O mais completo do meu singelo repertório. A maior homenagem ao nosso velho Floyd!
*Vítor Rocha escreve aos sábados
8 comentários
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abril 2, 2011 4:45 pm às 16:45
Diego D.
Otimo encontrar jornalistas que podem escrever além do jornalês. Achei uma boa crônica, que sabe mudar de ritmo do meio para o fim, como, alias, o episodio contado pede.
abril 7, 2011 5:16 pm às 17:16
Camilla Costa
Não, esse é de ver o Telecine
abril 8, 2011 12:05 pm às 12:05
Tássia Novaes
sinistro
abril 8, 2011 12:28 pm às 12:28
Tássia Novaes
Tati, eu tenho uma Realidade capa de Claudia Andujar sobre os Ianomami. Fotorreportagem de qualidade rara.
abril 8, 2011 10:20 pm às 22:20
Ricardo Sangiovanni
Tassinha: seu comentário foi para o post errado, não sei por que…
abril 11, 2011 4:58 pm às 16:58
Diego D.
O meu também! Esse coment. ai era para o texto de Vitor Rocha.
abril 20, 2011 9:36 am às 9:36
Maíra
Grande Floyd! Dizem que os cachorros adquirem as características do dono. Floyd e Vitinho eram inseparáveis…kkkkk
maio 2, 2011 1:30 am às 1:30
Prof. Bruno Moura
“Queta Fróidi!”
Para entrar no Yate Show para ver o Roger Waters é muito fácil.
É só fazer como um galanteador, iludidor da filha alêa me disse um dia na Boate Borracharia:
– Brunão: é duas piada e um problema! Não há porta que não se abra nem perna que não se deite!
“Queta Fróide!”
hahahahaaaaaa!!!