Tem dias que sim e dias que não, quando se acorda de um sono pesado e oleoso já fazendo cafuné com a mão direta em si mesmo, pra ter alguma coragem de levantar.

Mal se vê anoitecer em um dia que não porque é preciso molhar as plantas. Depois é preciso lavar todas as roupas sujas da casa e limpar a geladeira. Depois, tirar os papeis velhos da mesa. Depois ainda, se for possível, é preciso escrever. Mas só se for possível porque não estamos em um desses dias que sim.  O texto pode sair tarde, mas como não se viu anoitecer, sai na hora em que sair. Dias que não têm alguma liberdade para que as coisas de hora marcada não sejam.

Depois de ordenar tudo – porque a ordem é elixir já conhecido para as negativas – é aceitável, mais do que aceitável sentir uma pequena felicidade ouvindo o barulho da máquina de lavar no meio de uma xícara de chá desintoxicante sem gosto em um dia que não.

É como as pessoas tem epifanias em livros: sentadas na sala, vendo flores em vasos ou ouvindo máquinas de lavar ou fazendo coisas sem importância. Um dia que não é um intervalo para se esperar uma epifania. Ela não virá, claro, hoje não. Amanhã, talvez.

Camilla Costa escreve aos sábados.