Esta crônica é uma deslavada farsa.

Se eu fosse um escriba respeitável deveria pedir desculpas já no primeiro parágrafo. Não bastasse o atraso na entrega destas parcas linhas, o assunto é totalmente diverso do que foi planejado e executado [na minha simplória mente] e, pior, admito tal fato de forma cínica e cretina.

Entretanto não há nada mais apropriado do que um cronista que mente e distorce. Não é apenas regra do jogo, é molde do próprio universo a ser delineado – no meu caso semanalmente – e entregue a vocês. Um paliativo para a vida, enfadonha e prenhe de lugares comuns que taxidermizam nossas falhas, alavancam nossa estultice, glorificam nosso senso parvo de realidade.

Eu poderia simplesmente explicar que a crônica era outra, perdida no limbo tecnológico desde que o meu PC apagou, peremptória e inexplicavelmente, durante a noite de ontem.

Porém é mais calhorda e encantador transformar um fato ordinário em excelso. Adequar-se tal como o curso do rio que desvia da barreira imposta, e transforma seu caudaloso caminho em cachoeiras e quedas d’água. E transmuta o acidente  em graça.

A crônica perdida, um arrazoado sobre a importância da ranhetice nos dias atuais, adormecerá no Purgatório dos textos, no círculo de fogo dos HD’s que aguardam formatação, à espera de outra oportunidade para publicização.

E se cada crônica é um parto, as minhas nunca vêm à luz de modo cesáreo. Sempre é fruto de um processo natural, deveras doloroso, de contrações e dilatação que se alternam por horas, até o momento da expulsão do rebento – e toda placenta envolvida no ato.

Falar sobre parto é apenas mais um torpe recurso alegórico para trazer à baila o tema recorrente da semana: Maternidade. Sim, porque muito além de uma data comercial, próximo domingo é dia de um afago especial naquelas que dedicaram parte de sua existência à nossa vida – e uma crônica sem clichê é uma obra pública sem superfaturamento: Desejável, mas pouco provável de ocorrer.

E eu que sou um mimado filho único cercado de mães por todos os lados, não deixaria tal data passar em branco, especialmente pela coincidência com o dia 12 de maio.

Seriam 85 anos de minha querida vó Tune, se ela ainda estivesse nesse plano.

Durante sua vida, a coincidência aniversário X dia das mães ocorreu algumas vezes.  Um momento sempre marcado pela ternura de toda família com ela, grande matriarca de coração acolhedor e riso largo. E dentre a parentada que lhe prestava reverência, ao neto mais velho sempre foi reservado o abraço mais apertado e o beijo na testa mais estalado.

E o neto sente falta imensa desse afeto.

Sente tanta falta que até inventou uma crônica para homenageá-la.

A crônica é falsa, a saudade é verdadeira e as lágrimas, ah, as lágrimas molham o teclado e aliviam a alma.

Alex Rolim inventa e atrasa crônica às quintas