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Era abobado o menino, desde a nascença. No começo não dava muito para reparar, mas em poucos meses notou-se o erro, porque ele não era como os outros bebês e isso não podia prestar.
A mãe levou-o ao médico, que explicou tudo com as palavras difíceis que eles falam achando que a gente está entendendo. A mulher chorava sem jeito de se conformar. O pai saiu batendo a porta para não ter que ouvir e não apareceu mais.
Cresceu sem atinar para as coisas que todo o mundo sabia, passando um tempo sem fim no chão catando um bicho imaginário com aqueles movimentos repetidos que davam aflição nas visitas. Que peso de se arrastar, pensavam juntas e com tanta força de lamento ou de bem-feito que era como se a ideia virasse uma pessoa que se sentava no sofá.
Também fazia uns barulhos que não viravam nunca palavra de gente e isso irritava, menos à mãe, que depois dos três dias de lamúria só sabia acarinhá-lo e agradecer por não ter de se separar dele nunca, nem para escola, nem para trabalho, muito menos para casamento.
Um dia morreu essa mulher e ficou só o abobado. Ainda tentaram explicar o que significava isso e o levaram para ver o caixão na esperança de que percebesse, mas não teve grande interesse naquilo.
Como nenhum parente o quis por perto, uma vizinha já bem velha levou o homem sem serventia pra casa e até se afeiçoou por ele, mas já estava ficando cansada de todo dia ter que ir buscá-lo no quintal de onde morava repetindo alto como se fala com surdo estrangeiro ELA NÃO VAI VOLTAR.
Tatiana Mendonça escreve às sextas