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Explosão!
Eis que no caos havia paz. Os olhares se encontram: de elétrons se faz a tranquilidade nos olhos dela, parece embriaguez. E nos dele, ah!, a satisfação do guerreiro exausto, ferido até, a contemplar o inimigo derrotado.
Ofegante, pousou a cabeça nos seios nus dela.
— Eu te amo.
Quando ela riu uma rajada de ar quente saiu de suas narinas.
— Eu te amo… Eu te amo… — ele, beijando o corpo dela.
Os dedos finos e longos mergulharam no emaranhado de cabelos pretos dele, úmidos de suor.
Mas ela não disse nada.
— Que foi? Não gostou?
— Foi ótimo — ela, lenta e dengosa, acariciando-lhe os ombros.
Ele não parecia convencido:
— Eu disse que te amo.
Ela o encarou como se lhe estivessem tampando a visão no momento de uma cena engraçada na tevê, desligada aos pés da cama.
— EU TE AMO! — ele agora tinha o tronco erguido, os braços abertos. Em seguida se deixou cair no colchão, ao lado dela. — Você não me ama — concluiu, apanhando os cigarros na mesinha.
— Não é verdade… — ela o envolveu com braços e pernas.
— Mas quando eu disse que te amava, você mal esboçou um sorriso, um “eu também”…
Ela trocou os tufos do peito dele pelos próprios cabelos. Respirou fundo.
— N-Não… Eu n-não acredito…
— Em quê?
— No seu egoísmo, ora!
— M-M-M… — foi difícil processar aquilo. — M-Meu… egoísmo?!
— Sim, senhor! — ela empinou o nariz. — Depois de uma transa ótimo, tudo o que você quer é ouvir um “eu te amo”?
— Mas fui eu que disse primeiro!
— E por que você disse?
— Porque é verdade!
— E então?
— E então o quê?
— Você não pode me amar de graça? Eu preciso retribuir a gentileza? E amar é gentileza ou entrega?
— Lá vem você…
Tarde demais: ela copiava a pose de Castro Alves.
— O amor é estar-se preso por vontade! É servir a quem vence: o vencedor!
— O amor agora virou um jogo?
— Isso é Camões!
— Rá! Como se você tivesse lido Camões, e não, tirado isso do plágio que Renato Russo fez em Monte Castelo — pôs-se a cantar, afetado: — Aiiiinda que eu falasse a língua dos homeeeens, e falasse a língua dos anjooooos, sem amooooor…
Parou, para rir da cara fechada dela. Deu um trago no cigarro, que ia pela metade.
De repente:
— Eu nunca te amei, idiota! Eu nunca te amei, rá, rá, rá, rá! Eu nunca te amei, idiota… — as últimas sílabas foram disparadas com os rostos dois centímetros distantes um do outro. — Eu nun-ca te a-mei…
Gargalhando, ela lhe tocou o queixo:
— Ô, gente, como ele é sensível! Tava cantando também, amor. Ana Carolina. Nunca ouviu essa?
— Vai ver é isso mesmo. Você não me ama, e eu fico dando uma de idiota. E ainda por cima aturando suas crises existenciais de quem não saiu da adolescência, sua TPM, sua demora pra escolher uma blusa; sem contar o vexame que você me faz passar na rua, quando se empolga e começa a falar e a rir alto, que nem uma doida!
— E-E-EU NÃO FALO ALTO!
Ele sorriu em meio à fumaça.
— Q-Q-Q…
— Ah! Agora ela vai começar a apontar meus defeitos. Vai falar que eu sou ruim de cama, que tenho pau pequeno, essas coisas…
— Nããão. Eu não caio nesse seu joguinho barato. Além de egoísta, você é muito baixo!
Ela se sentou com as pernas para fora da cama, dando-lhe as costas.
— E não me ama coisa nenhuma… — teria dito?
Ele acendeu o segundo cigarro na guimba do primeiro e foi fumá-lo à janela.
— Ei — disse ao pé do ouvido dela, três tragadas depois, as demais abandonadas.
Ela se virou e encarou-o, o rosto meio inclinado. Magoado. Ficaram assim até —
Relâmpago!
Naquela noite bateram seu recorde.
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Breno Fernandes escreve às terças