Há quase um ano deixei meus livros. Eles ficaram lá enfileirados, coloridos, pesados, tristes — alguns poucos não eram melancólicos, mas queria que também sentissem minha falta.
Não que eu abrisse qualquer um deles depois de terminar de ler, de jeito nenhum. Isso é contra os meus princípios. Mas gostava de ficar olhando para a prateleira, porque isso me transformava numa pessoa melhor, com todas aquelas histórias morando em mim num relance.
Poderia colocá-los numas caixas, pagar um preço e trazê-los, mas isso teria o efeito oposto. Me transformaria numa pessoa apegada, o que eu não sou. Ou numa pessoa que tem uma estante, o que eu não tenho.
Verdade que embarquei alguns, os que amava mais, para não ficar tão só. Acontece que eles ficam o tempo inteiro me lembrando dos que abandonei. Também sou assim na vida, o que poderia ser resolvido com alguma terapia. Mas, convenhamos, o que seria da literatura se esta opção fosse considerada com alguma seriedade?
Acabei sem querer dizendo que sou literatura, o que é uma pretensão, uma ofensa e uma verdade absoluta. Porque sem os livros, os de perto, os de longe, os da livraria e os que ainda estão sendo escritos, dispensaria estar aqui.
Tatiana Mendonça escreve às sextas
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