O tcheco Miroslav Tichý não foi uma dessas pessoas que morreu sem reconhecimento, apesar de não o conhecermos de nome. Era mais Sixto Rodriguez do que Vivian Maier. Ele foi preso pelo regime comunista mas não era um grande subversivo. Andou pelas ruas de barba grande e roupa de profeta tirando fotos com câmeras de papelão, mas não era nenhum grande excêntrico. Tichý era só um artista que gostava de fotografar mulheres com câmeras improvisadas e o fazia bem.
Há curiosidade, voyeurismo, sacanagem e respeito nas fotos de Miroslav Tichý. E há uma democracia. Peladas, semi-nuas, vestidas, descaradas e inocentes tem o mesmo tempo de câmera. No fundo (contra fotos não há argumentos) ninguém pediu mais do que ninguém pra ser devassado em sua intimidade – porque o momento público também é um íntimo, que se corrompe o tempo inteiro ao existir.
Elas aparecem agachadas, de costas, com amigas, de biquíni, andando, parando, falando, saindo, voltando, de uniforme e, algumas vezes, peladas. Quase nunca olhando para a câmera porque não sabiam estar sendo bisbilhotadas mesmo, de verdade, por aquele velhote maluquete de câmera de papelão. Ou sabiam e se soubessem tudo bem, porque estamos ali, na rua, no mundo, mulheres e homens, para sermos objetos de desejo, de arte, de atenção.
Como sempre, no caso dos objetos, a questão é o que fazemos com eles.
Camilla Costa escreve aos sábados
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