não fosse tu, Ernestina,
comida pouca era fantasma
pior doença do que asma
a assolar tanta menina

tanto menino mal-ajambrado
barriga de verme, olhar gradeado
pela seca-guilhotina

em fartura mergulhava a tua fama
– homem não sabe, nem leva jeito –
verte, Ernestina, da vastidão do teu peito
a saciedade de quem reclama

nunca secou, nem borbulhou tristeza
o leite do colo farto
dos outros aparou tanto parto
quem desnutrida, se fez princesa

contam por tanta justeza
que mesmo em seca terra
o seu leite a dor encerra
teu gosto te faz alteza

quem te pôs em vida
mulher de tantas bocas desvalidas
que se preencheram na tua sina?

sabem mil meninos
e outras mil meninas
que em teu peito ercarnou-se
tanta vida severina

Carmezim escreve às quartas