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Aquela romântica ideia de que escrever é colocar uma mensagem numa garrafa e lança-la ao mar na esperança de que alguém um dia a recolha ficou desatualizada. Hoje, com a ferramenta de estatística do blog, eu tenho perfeita ciência de quando um texto meu é lido e quantos são os meus leitores.

Somos três, em realidade. Eu, que leio meus textos para procurar erros; minha mãe, que acha todos lindos e sempre me elogia; e uma terceira pessoa que não sei quem é gostaria muito de saber para dar um abraço apertado.

Enfim, não somos muitos, mas somos fieis, e todas às segundas-feiras perdemos dois minutos para ler um amontoado de palavras como estas. Óbvio que eu gostaria que fôssemos mais, mas enquanto não houver nenhuma baixa seguirei escrevendo.

Fato é que nos últimos meses algo que em princípio deveria ser uma alegria tem se transformado em um incômodo para mim: tenho sido mais lido. Em especial, um texto tem sido bastante lido. Bacana, não? Não! Explico. Em abril do ano passado escrevi este texto titulado “Que fazer com um déja vu?”.

Meses depois e já não estando ele mais como link da página, começaram a brotar acessos, coisa que detectei pela ferramenta de estatística e que me  intrigou. Primeiro imaginei que alguém “influente” na internet, tipo um ator global ou um comediante desses sem-graça tinha gostado do texto e o divulgara em algum site ou portal. Depois percebi que na verdade se tratava de um mal-entendido. A busca do Google recomenda como uma das primeiras sugestões esse texto quando o internauta procura pelo remédio Dejavu (“Para que serve”, “como usar” etc).

Após uma busca (bem-sucedida) no Google descobri que o remédio serve para impotência, o que me deixou ainda mais incomodado, porque veja só: quem caiu na minha página estava com um problema que nós, homens, sabemos ser sérios, e eu além de não ajudá-lo tomava seu tempo.

Mais intrigante é que o começo dessa minha humilde crônica pode dar a entender que se trata, sim, de um auxílio aos meus leitores acidentais, já que digo:

“Déjà vu, eu os tenho. Com maior ou menor frequência dependendo da época.”

Parece até uma confissão. Talvez nesse breve momento eu consiga o que tanto busco: a empatia com o leitor. Mas aí ele avança para a segunda linha e vê que o texto não lhe serve. Pior ainda, se se dá ao trabalho de pular para a última linha (talvez por curiosidade) encontra com o seguinte dizer:

“Comigo não, violão! Vai pregar peça na tua avó!”

É de se imaginar que se sinta ultrajado. Fico sem-jeito porque já tenho poucos seguidores e agora ganhei centenas de não-leitores que talvez me insultem sem ter lido nada mais do que uma linha do que escrevo.

Pensei em colocar um aviso logo abaixo do título, algo assim: ATENÇÃO, se você sofre de impotência e busca informação sobre o remédio Dejavu, clique aqui (com o devido link para a página da empresa produtora das pílulas).

Passou também pela minha cabeça tentar cativar esse leitor, quiçá transforma-lo no meu quarto fã, com uma mensagem assim: “Você provavelmente caiu nesta página sem querer, buscava outra coisa”. Mas não vá embora, me dê uma chance. Leia este texto até o final, se não gostar, tenho outros, veja só (seguido de outros links).

A terceira e mais maligna ideia foi começar a colocar em meus textos títulos que possam gerar confusão e fazer com que mais pessoas me leiam, ainda que sejam só as três primeiras palavras. Isso serviria para que eu, no futuro, negociasse um aumento de salário com a chefia do blog sob alegação de que tenho sido muito mais lido. Este texto mesmo, ao invés de “Leitores acidentais”, poderia ter o título “Sobre a impotência e a solidão de quem escreve”.

No final das contas, acho que não tomarei nenhuma medida. Seguirei escrevendo para meus três leitores, com fé de que nenhum de nós desistirá – e esperança de que esse grupo cresça tanto que um dia podamos até formar um time de futebol (de salão, porque não sou tão ambicioso).

Ricardo Viel escreve às segundas

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