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– Se soubesse não teria vindo.

– Ô, fio, desculpa aê, mas cê ta falando do quê mesmo, aí sozinho?

Além dos dois, mais ninguém no balcão grudado na parede do bar, madeira pobre que ia de fora a fora.  Três da manhã.

– Isidora. Eu lá sabia que ela ia se encantar assim?

– Com o quê, man?

– Eu lá sabia que ela ia perder a cabeça com o carnaval?

– Ihhhhh, gigante, ela se embrenhou no meio da galera, foi?

– Se ela tivesse só se embrenhado, era bom, mas o problema é pior, mais embaixo, mais desgraçado. Ô, meu Senhor do Bonfim!

No Bar do Baturi o silêncio era abissal. Só o zumbido do diálogo dos dois cortava o ar.

– Calma, man, Senhor do Bonfim não resolve treta de carnaval, não. Ela falou algo antes de sumir?

– Cê tá bebendo o quê?

– Domecq.

– Porra, sua dor tá maior que a minha, né?

– Pode ser. Quarta de cinzas, todas as dores do carnaval explodem. É assim que eu sinto. Comigo o lance não é de ser deixado. É que EU deixei. Mas se eu voltar hoje, já era. “Onde já se viu voltar na quarta de cinzas?”, sei que ela vai gritar.

“Não, não, não, não me abandone, não me desespere, porque eu não posso ficar sem você”, as caixas de som do Baturi derramavam.

– Época boa, Daniela era melhor nessa época.

– É verdade, fio, é verdade. E Isidora? Se picou do nada mesmo?

– É, man, enlouqueceu com o Psirico. Se eu soubesse não tinha vindo.

– Quer Domecq?

– Acho que vou me jogar nessa.

A garrafa de Domecq ainda estava na metade.

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