Meu Santantonho querido, tô aqui paralisado, joelho doído, as costa também, porque vim de longe lhe perguntar como é que pode o povo dizer que todo castigo pra corno é pouco? Eu venho carregando parece que um elefante na minha cabeça e o peito entristecido que só, sei lá, mais do que quando perdi umas trinta melancia quando a carroça tombou na virada da Fonte dos Padre, lá em Curralzinho, o senhor sabe como foi, porque pedi tanto ao senhor que olhasse por mim já que o dinheiro da feira ia ficar pequeno com o prejuízo. Pois é, Santantonho, como pode o povo dizer que tenho que carregar uma cruz maior que essa que tô levando? Jandira tinha lá seus problemas, eu sei, gostava de andar toda empiriquitada pras festas de santo que tem todo ano lá em Curralzinho. Pra falar mais certo, as festa é que ficavam tanto mais bonita com a presença de Jandira e disso eu não fazia fuzuê, eu juro, em nome-do-pai-do-filho-do-espíritosanto, já que tudo aquilo ali era meu, meu Santantonho, quando a noite caía, no dia-a-dia, na coisa ali do fica-mas-num-vai, sabe? Aí num é que peguei Jandira de treta mais Josuel? A charmosura de Jandira é de poucos resistir, eu sei, e disso também não faço fuzuê, em-nome-donossosennhorjesuscristo, mas o negócio é que ela me deixou depois disso, e nem veio fazer as vezes de arrependida, porque, te digo, Santantonho, ela podia até não tá arrependida, mas se viesse com aquela carinha dela de que tava, aaaaaah, eu ia me acabar era num perdôo mas num perdôo com ela dos bom. Já num basta a imagem dela me acordando toda manhã que agora eu tenho que apagar, a passagem dela pela minha porta todo dia serelepe como não sei o quê, cheirosa que só ela, me vem agora a rua toda dizendo que castigo pra corno é pouco?! Vim me benzer na sua frente, Santantonho, meu santo querido, pra que o senhor veja que eu quero esconjurar essa mulher da minha vida, quero que ela suma nas profundeza, que ela se ajeite com outro, que ela até mesmo vire a rainha da quermesse pra todo mundo ficar mais ainda de olho vidrado nela, eu amo muito, eu sei, mas isso eu vou empurrando, o que preciso, peloamordeDeus, e isso é uma prece, é que o senhor me diga o que é que eu faço com todo esse agouro que o pessoal tá jogando em cima de mim dizendo que, mesmo sendo corno, eu ainda tenho que pagar! Em-nome-do-pai-do-filho-do-espíritosanto-amém.

Carmezim escreve às quartas