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Certa vez li na parede de um bar uma frase que dizia que as mulheres casam por curiosidade e os homens por cansaço e que ambos se decepcionam. O que sempre me faz pensar que casais gays tendem ao comodismo matrimonial e os lésbicos a uma alta rotatividade. Mas esse não é o tema desse texto. Se houver um, talvez seja esse tão roto de tão cantado sentimento, esse desconhecido, o amor, e outras divagações vespertinas.
A frase atribuida a Oscar Wilde não fala sobre amor, mas desconfio que cansaço e curiosidade não excluam o sentimento. O problema é que apesar de sua aparência nobre e caráter palpitante, ele não reúne força suficiente para juntar duas pessoas para sempre, mesmo que para sempre seja só na intenção. Amar, a gente ama, mas daí a passar a amar exclusivamente, e por contrato, já complica. Para isso é preciso um catalizador mais forte que o amor e não conheço nada mais eficaz que curiosidade ou cansaço.
É que de nobre o amor não tem nada. É um troço tão ordinário que a gente dá para qualquer camarada ou camarado que não valha um litro de mel coado. Ele é só o papel que embrulha o que a gente realmente entrega. E aí varia. Afeto, dinheiro, consumição. E o casamento é só um embrulho mais fancy que fica por cima de tudo.
Mas se até São Francisco mandou dizer que é dando que se recebe, imagine a gente aqui, que não é santo, pecando loucamente. A gente se entrega embalado em amor para o primeiro estranho fedendo a Impulse que nos oferece flores, mas é na esperança de receber algo de volta. E amor só não basta. Porque ele também embala cobrança. E quem nunca bateu a porta na cara do cobrador e mandou um “passa amanhã que tô operado?” É aí que as uniões se tornam instáveis.
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Tenho que voltar ao tema do casamento gay por conta de um release que recebi hoje sobre uma agência de casamentos especializadas no púbico homossexual. Primeiro pensei na questão do serviço exclusivo, na criação de mais um gueto para que todos, dentro e fora dele, fiquem confortáveis.
Depois pensei se não evoluimos para involuir. Se conquistamos direitos só para o capitalismo ficar mais alegre com do tal do pink money. Temos a oportunidade de criar coisas novas baseadas em conceitos alheios à heteronormatividade e nos pegamos comendo a pilha do capitalismo.
A ficção disse que o modelo de família heterossexual é que é o bom, que vestir vestido e fraque e dizer sim é que é o certo. A gente viu filmes com a Julia Roberts demais, leu livros e revistas de noivas demais. E acreditamos.
“- Sou casado, mas é em off”, cantor de pagode em entrevista a uma amiga jornalista.
Pedro Fernandes é o convidado especial desta sexta-feira. Tatiana Mendonça retorna na próxima semana