Seu olhar era um plano fechado naquela superfície enrugada, crespa, vermelha e circular.
Linhas negras e tortas rompiam a sequência do esférico rubro.
Suas mãos pouco podiam segurar aquela bola de basquete, mas seus olhos nada viam além dela.
E ele pensava, profundamente mergulhado nas suas ideias, quantas vezes betâ-la no chão antes do arremesso.
Concentração.
Um, dois, três…
Melhor terminar em par ou impar?
Seis, respirou, atirou.
Chuá.
Mas aquele nunca foi seu esporte favorito.
A mão cresceu, a bola mudou e o cheiro da relva molhada de meio de noite já dominava sua visão.
O hábito de contar para se concentrar permaneceu. Era sempre até o número de gols a ser marcado.
Falta, posição para a cobrança, já tinha três no jogo… um, dois, três, quatro, quatro, pummm…
Na rede, é goooool.
Um grito espontâneo, abraços e sorrisos.
Um dia ele se esqueceu disso, acho que tinha perdido as contas, sorria tanto que parecia ter uma relação perfeita com a bola.
Como num voo de pássaro, deixava-a rolar e se movimentava em torno dela em harmonia, para cá, para lá, chuá!
Quanta alegria, sem contar, sem se importar, estava ali só para dançar.
Vítor Rocha escreve aos sábados
Deixe um comentário
Comments feed for this article