Adalberto Feijó. Braço forte, técnica apurada em enterrar a enxada, retirar o monte certo de chão, soltar o punhado de semente, alisar a terra novamente, tapar o buraco. Surpreso Feijó ficou quando o cabo da enxada estremeceu na sua mão depois de se chocar com algo debaixo das vistas dele. Cutucou daqui e dali, revirou a terra mais uma vez. A propriedade de Adalberto – conhecido de menino por Jojó da Banda Podre – tinha poucas tarefas, dava nada demais: milho, melancia. Tinha também um pé de umbu.
A mandioca – que não se sabe de onde veio ou como surgira naquelas bandas – pesava uns trinta quilos. Trabalheira sem tamanho pra tirar da terra, limpar, colocar em cima da mesa de casa (quase arreou!). Raiz que é raiz gosta de se fazer de difícil. Jojó da Banda Podre ficou feliz, pensou ser escolhido por Deus, das partes Dele que tem a ver com plantio, agricultura, essas coisas, porque lá em cima o gerenciamento havia de ser tudo dividido por assunto.
Morava só, mas agora tinha companhia, afinal, uma mandioca que ocupava aquele espaço no mundo tinha seu encanto de ser quase um bicho, uma pessoa, sabia lá.
Ela ficava em cima da mesinha de comer, debaixo da única lâmpada da casa de um cômodo, só as quatro paredes pra ficar de pé. Por ali permaneceu uns cinco dias, pelo que se lembrava. Era bom demais saber que naquelas redondezas todas nunca havia aparecido uma mandioca daquela estatura, parecendo boa por demais, boa pra cozinhar, pra meter manteiga de garrafa, comer com ovo de quintal frito.
E a tal tal danou de nascer logo no chão de Jojó da Banda Podre! Quando chega a hora de se destacar, Jojó pensava, Deus manda logo é um quinhão de responsa, pra chamar a atenção de todo mundo, que nem igual a ganhar dinheiro na fezinha.
Quando se sufocou de vaidade, não agüentou o limite da cerca. Colocou a raiz nas costas do burrico e foi até a venda, chamada por ali de O Kfofo. Metido a inventar nome de letra diferente esse Didiu, pensava Jojó com as caraminholas.
Juntou gente, mas juntou gente mesmo, na praça. Jojó da Banda Podre arrastava o burrico, que trazia a mandioca, que vinha toda modelo, desfilosa. Arreou a dita cuja na frente d’O Kfofo, que tinha duas portas azuis, uma que só entrava quem comprava a dinheiro na hora e outra pra quem ia pendurar.
Dizem, isso eu não pude ver, que Jojó da Banda Podre entrou pela primeira. Todo cheio de não-me-toque dizendo que tinha a mandioca mais valiosa da região, nascida como que Jesus, sem semente, das mãos de Deus, que escolheu ele por pai. Didiu riu a risada famosa de Didiu. Puxou uma faca que usava pra cortar as tripas fritas que vendia e descascou um pedaço da raiz.
Podre, podre.
Com a parte que ainda dava pra alguma coisa, fizeram um purê pra comer com carne do sol.
Carmezim escreve às quartas
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