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Sensível, mesmo, é a Fiona, cachorra dos amigos Fevis e Jú. Só de ouvir a palavra saudade, a danada chora. E se dito pausadamente, SAU-DA-DE, a bichinha uiva e espalha para quem estiver por perto aquele aperto no peito que ela sente.

Saudade é coisa tão ruim que o que se faz (ou se tenta fazer) é matá-la, para ela não matar a gente – tanta gente que morre de banzo por aí…

Saudade dói. Dói muito. Já disse aquele carioca dos olhos claros. “Saudade é o revés de um parto; é arrumar o quarto do filho que já morreu”, cantava ele.

Fui procurar no dicionário se a definição de saudade trazia explícita essa dor. O Aulete diz que é um “sentimento evocatório, provocado pela lembrança de algo bom vivido ou pela ausência de pessoas queridas ou de coisas estimadas”.

Já o Houaiss fala em “sentimento mais ou menos melancólico de incompletude, ligado pela memória a situações de privação da presença de alguém ou de algo, de afastamento de um lugar ou de uma coisa, ou à ausência de certas experiências e determinados prazeres já vividos e considerados pela pessoa em causa como um bem desejável.”

Okei, tecnicamente está bem explicado, mas falta algo. Para mim, quem melhor definiu saudade, de longe, foi Mia Couto em “Antes de Nascer o Mundo”. No livro do escritor moçambicano, em certo momento o sobrinho pergunta ao tio sobre sua mãe, que já morrera.

– Acha possível que nosso pai não tenha saudades?

– Ora, ora: quem sabe o que é saudade?

– Ele tem ou não tem?

– Saudade é esperar que a farinha se refaça em grão.

Bingo! É isso. Saudade é sonhar com o que nunca mais vai acontecer. É sofrer pensando naquele momento de gozo, momento que não vai mais se repetir. Não significa que não viveremos algo tão bom ou até melhor. Só quer dizer que não viveremos mais aquilo.

Mas há algo de bom nesse sentimento. Só sente saudade quem foi feliz, quem viveu (e fez) coisa bonita, quem marcou e foi marcado. Doce ironia: dói recordar aquilo que, por ser irrepetível, foi tão bom.

Depois de sofrer um bocado por causa de saudade descobri que bom mesmo é quando a gente consegue prevê-la. Então você aproveita cada segundinho daquele momento e se fortalece pra enfrentar o que vem depois: aquela dor. E dói, viu. Estão aí de prova o cinquentão boa pinta, o escritor de nome bonito e a cachorra amorosa.

Pós-nota (acrescentado às 17h30 de segunda): só agora me dei conta de que Chico na verdade é um sessentão, o que só reforça a tese do boa pinta.

 

Ricardo Viel escreve às segundas

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