Messias tem a barriga saindo um pouco da blusa. Barriga de criança, alguns dirão, sem cintura, lisa, engraçada.

Há quem aposte que Messias tem seis anos, mas fraqueza rima com magreza: acertará quem disser que ele tem doze, doze como o ano, frações de ano, tempo demorado de passar.

Pés descalços, short fulosado.

No descampado à frente dele é noite e faz sol.

Sol no carrossel que balanceia num giro musicado. Sol nos olhos de criança sucumbindo ao etéreo, ao que vem do sonho, ao que salta da respiração das narinas para se materializar em cavalos coloridos.

Olho de menino pidão esse seu, o guardinha fala com Messias que a essa altura já tem a mão suada e os pés frios.

Moço, isso grandão aí que fica quase voando, qual o nome, engasga um pouco, engole a saliva na boca seca, bate o pé no chão de leve, agoniado.

Até parece, molequinho, que tu nunca viu falar em carrossel.

Ele vai rodar rodar até subir pro céu, é?

Sobe, sim, mas pra subir pro céu tem que pagar três reais.

Num tenho dinheiro, Moço. Ô, tio, cê pode chegar um pouquinho pro lado porque tá tapando a minha vista, e já tem esse monte de arame aqui na minha frente que não deixa eu ver direito.

As crianças descem dos cavalos coloridos, intervalo para nova remessa de abençoados que podem rodar rodar até subir pro céu. Messias interpela o carrasco.

Tio, tem jeito não de eu subir num cavalo desse? Nunquinha que eu vou quebrar nada, só queria ver como era poder rodar no meio das luzes, com música e tudo mais.

Três reais. Pra você eu faço dois.

Dois reais eu como um cachorro-quente completo, moço!

Messias mesmo se entope. Mas vale um vôo no meio da luz do que um cachorro-quente completo. Pegaria sem milho e queijo ralado da próxima vez, economizaria. Conta e reconta as moedas.

Setenta e cinco centavos. Dá?

Deixa acabar tudo que dou um jeito.

Quando a noite já entrava pela madrugada, o guarda chamou Messias.

Olha, com setenta e cinco centavos só dá pra você sentar no cavalo. Se eu ligar o aparelho de novo, vou gastar muito mais do que esse dinheirinho seu. Senta lá, escolhe o seu cavalo e finge, finge que tá rodando.

Quando sentou no cavalo amarelo misturado com vermelho Messias chorou. Cantou uma musiquinha que sabia de cor, se balançou um pouco na sela do cavalo.

Foi quando as luzes se acenderam e o carrossel rodou com mais força do que o habitual. Mesmo meio tonto, Messias pode ver lá de cima, do céu, como as luzes do carrossel faziam lindos desenhos no chão e como era bom voar sentado num cavalo.

Carmezim escreve às quartas-feiras