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O leitor mais antigo e atento desta tribuna virtual deve já deve ter percebido: Nós PURGADORES somos responsáveis por editorias bem definidas, que atendem a uma demanda diversa e multifacetada de temas e enquadramentos, respeitando estilos individuais e visões particulares sobre este mundo – e outros.
Para os neófitos, desvendo a questão. A DIVISÃO SOCIAL das editorias seria, mais ou menos, a seguinte: Ricardo Sangiovanni, nosso editor-chefe, com REVISIONISMO HISTÓRICO e CRONIQUICES DOMINICAIS, Saulo Dourado com FILOSOFIA COTIDIANA e METAFÍSICA DOMICILIAR, Davi Boaventura – da sucursal dos Pampas – CULINÁRIA EMOCIONAL e HERMENÊUTICA DA FRIAGEM , Breno Fernandes com CONTOS, MITOS e REALISMO FANTÁSTICO, Carmezim no caderno de POESIA SEM FREIO NEM TETO, Tatiana Mendonça com PARADIGMAS DO CORAÇÃO e ANGÚSTIAS DIVERSAS, Camilla Costa – ex-correspondente londrina para questões da Monarquia Real Inglesa – PROBLEMAS ESTRUTURAIS DAS GRANDES METRÓPOLES e AFINS.
Não há, entretanto, rigidez na nossa redação itinerante. Vez ou outra é possível passear por outros temas, as letras miúdas do contrato permitem tal liberdade. Hoje, por exemplo, planejava uma reflexão leve, sinuosamente CAPILAR. Fica para outra data.
Isso porque, além de ser COMENDADOR VITALÍCIO DA SOTERÓPOLIS PARA ASSUNTOS DO ABSURDO, COMENTARISTA DE LUDOPÉDIO COM ENFOQUE EM VÁRZEA APLICADA e ANALISTA SOCIAL DE CULTURA NON-SENSE, tenho uma das tarefas mais nobres de qualquer hebdomadário. Sou o OBITUARISTA OFICIAL do Purgatório.
Um obituarista às avessas, que usa e abusa dos adjetivos em suas exéquias. A regra é pouca objetividade e muito ESPAVENTO.
Quando soube, na noite do dia 23 de julho, da passagem do virtuoso sanfoneiro José Domingos de Morais para outro patamar, estava ciente da minha obrigação em registrá-la nesta coluna, com as devidas honrarias.
O destino é, de fato, um roteirista irônico e caprichoso. Quis ele que a despedida de Dominguinhos perante o público acontecesse justamente no palco que Luiz Gonzaga veio ao mundo – Exu, no Araripe pernambucano. E nas comemorações pelo centenário do nascimento do Rei do Baião. Desde então, internado em Recife, lutava contra o câncer.
Dominguinhos tinha orgulho de ter sido escolhido, e batizado artisticamente, por Gonzaga como seu herdeiro musical. A parceria entre eles, as gravações e shows, já seriam suficientes para colocar o discípulo em destaque no cenário musical brasileiro.
Mas ele fez mais que elevar e perpetuar o espólio deixado pelo velho Lua.
Com um estilo singelo, de voz suave – em contraponto à voz de CANA RACHADA do Rei – Dominguinhos soube unir a riqueza rítmica do forró à sofisticação do seu estilo no manejo do instrumento. Sua discografia solo prima pela elegância com que seu acordeon desfila pelos mais diversos estilos: Bossa, jazz, choro, xaxado, baião. Exímio arranjador, enveredou pela MPB e deixou contribuições memoráveis.
Foi um dos maiores compositores de nosso tempo, com inúmeras parcerias com artistas consagrados com Chico, Djavan, Gonzaguinha, Nando Cordel e Gil. Deste último foi músico em muitos álbuns, uma sintonia que rendeu grandes canções, como a idílica Lamento Sertanejo.
Mesmo sendo um virtuose, sabia usar o FLOREIO a favor harmonia. Tocava de ouvido e cantava de forma serena, compassada. Sabia que a sanfona ficava perto do peito para exprimir o que saía do coração. Poucos cantaram a saudade – que agora fica com os fãs – como ele.
Despercebidamente, no dia seguinte à sua morte, também deixava esse plano CANDEEIRO, o ÚLTIMO CANGACEIRO do bando de Lampião. Cumprindo a PROFECIA de 1957, no estúdio onde Gonzaga gravava Forró no Escuro, antes de convocar a imprensa e anunciar Dominguinhos, ex-NENÉM DO ACORDEON, como seu herdeiro musical:
O CANDEEIRO SE APAGOU.
Certeza que foi Lampião convocando todo seu bando para comparecer a esse BAILE PERFUMADO, para dançar XAXADO [olha a pisada -tum,tum,tum- de Lampião!], que deve ter ainda Sivuca e a benção de Padim Ciço.
Mas a sanfona não pode parar nunca. Porque o forró tem que continuar.
Alex Rolim escreve às quintas