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Levantou-se preguiçosamente o cidadão na manhã de domingo, e a primeira coisa que ficou sabendo é que a Vent & Lar vende ventilador de teto de acrílico por R$ 115.

E mais que a Castro Embalagens fabrica sacos para lixo em rolo; que o botox, carbocisteína ou selante capilar no centro de beleza e cosméticos Beleza Fashion sai por cem pratas; que a Reclident oferece aparelho dentário, implantes e próteses; e que Mário Soares, do consultório de nutrição, dá 30% de desconto no atendimento com bioimpedância para quem levar o anúncio recortado.

E assim o cidadão que acordou querendo só comer um pão foi obrigado a consumir, goela abaixo, a moqueca de anúncios de varejo que virou o saco de papel em que a padaria agora embala o pão nosso de cada dia.

Pois é, amigos: aqui na Bahia – e, pelo jeito, não só – saco de pão, aquele secular saco amarelo-pardo de pão, está com os dias contados: a padaria aqui perto de casa – aquela mesma de que já lhes falei certa feita – acaba de adotar as fantásticas embalagens da Pãopaganda (“sua publicidade no pão de cada dia!”), que já vai pela segunda edição, desta vez com dez mil exemplares. Dizem eles (eu duvido) que já distribuíram mais de 7 milhões de embalagens de papel nas panificadoras – com as quais (olha a sustentabilidade aí) retiraram 7 milhões de sacolas plásticas de circulação.

Sabem bem meus mais chegados que não sou homem de reagir com muito entusiasmo às maravilhas criativas da publicidade, do marketing, dessas coisas. Portanto, quem quiser discordar, pensar o contrário, abominar-me a condição de chato de uma figa e condenar-me a morrer pobre e cheio de ideologia, mais duro que pão dormido, que fique à vontade. Mas sou da seguinte opinião: acho de uma picaretagem sem tamanho essa história de vender publicidade em saco de pão.

Porque quem vende publicidade em saco de pão vende, a rigor, a alma de sua própria clientela. “Ô Freitas, aqui vêm por dia 5.000 pessoas comprar pão. Quanto você paga por isso?”, pergunta o dono da panificadora ao genial inventor das embalagens publicitosas. “Dou-lhe X por cabeça, Santos, mais as embalagens de graça, negócio fechado?”, retruca-lhe o publicitário. E arremata a padaria, de porteira fechada.

Quem vende publicidade em saco de pão nos vende sem nem nos perguntar se queremos ou não comer propaganda junto com o pão. Esses espertalhões vendem nossa paciência, nossa saúde mental, nossa paz de espírito dominical. Vendem a entrada sorrateira no sagrado espaço de nossos lares, faturam um trocado gordo e sem nos dar nem o direito de escolher, quanto menos o de pagar mais barato pelo pão – pois não seria o justo, já que a publicidade está custeando uma parte da farinha?

É tempo de unirmo-nos, amigos. Unamo-nos nós que damos duro diariamente, porque nós sabemos que ganhar o pão nos custa é muito caro para ainda termos de dar dinheiro a panificadores de segunda, a publicitários de quinta, a anunciantes de última, ao diabo que lhes carregue. Se querem que consumamos publicidade, que nos consultem, que nos paguem, ou que nos dêem um desconto no preço do pão. E mais: que paguem royalties a toda a cadeia milenar em torno do negócio do pão: aos mesopotâmios, por terem-no inventado; a Jesus Cristo, por tê-lo repartido na ceia, e ainda inventado a reza de que hoje a publicidade infame saca seus slogans chinfrins; e principalmente aos braços de quem amassa o pão, de quem o produz diariamente, às fornadas, suando naquele calor infernal há gerações.

Que seja isso ou nada, amigos. Isso ou nada.

E se for nada, não esqueçam que a LigueSite faz sites de 4 páginas por R$ 400 e entrega em três dias. Que a Porto de Biquini dá 10% de desconto e a Dryclean – que é muito mais que uma lavanderia – dá 15%, mais delivery grátis…

Ricardo Sangiovanni escreve aos domingos

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