Y = C + G + I + (X-M). Poucos conhecem essa equação, mas a vida de todos nós está intrinsecamente associada a ela. Trata-se da fórmula para calcular o Produto Interno Bruto (PIB), ou Y. C é consumo. G são os gastos do governo. I é investimento. X é a renda das exportações; M, o gasto com importações; portanto X-M é o saldo da balança comercial, isto é, do comércio com o mundo.
Todas as variáveis da equação são interdependentes. Por exemplo: se o governo aumenta seus gastos com obras públicas, há mais trabalho disponível, mais renda, logo as pessoas podem consumir mais.
Se a nova renda não for totalmente para o consumo, mas tiver uma parte direcionada à poupança, isso significa que haverá mais dinheiro disponível nos bancos, o que pode permitir a fixação de juros mais atrativos para empréstimos com finalidade de investimento.
Da mesma forma, se o país exporta mais que importa, o lucro das vendas para fora pode se reverter em consumo (salários maiores, novos empregos), verba para o governo gastar ou aplicar (falo dos impostos) ou investimentos. E assim a economia de um país cresce.
No que concerne à inflação — ao aumento dos preços — , é preciso que se diga que ela é consequência do desenvolvimento da economia. Inflação não é necessariamente um problema; preocupante é a aceleração dessa, porque desestabiliza o sistema econômico.
A aceleração ocorre por diversos motivos. A insegurança mesma das pessoas é fator inflacionário. Se elas acham que há de vir uma inflação braba pela frente, começam a fechar negócios com elaboradas cláusulas de ajuste de preços, e no fim das contas a inflação braba se materializa.
A atual aceleração inflacionária que acomete o Brasil, no entanto, é causada por outros fatores. Alexandre Versignassi, editor da revista Superinteressante, escreveu há alguns meses uma reportagem que explica muito bem, tintim por tintim, quais são esses fatores. Resumindo, poder-se-ia pôr a inflação de hoje em dia na conta da estrutura tributária, da rede de logística e de transportes e da ineficiência de alguns setores da indústria nacional. Tudo isso aumenta os custos de produção, custos esses que são repassados aos preços, tornando tudo mais caro e nossa economia menos competitiva. A falta de estrutura é força antagônica ao crescimento econômico.
A The Economist, há algum tempo, vem batendo na mesma tecla, mas levando o debate para o campo da política e, assim, dando munição aos principais críticos do modelo econômico engendrado pelo PT, uma vez que temos o costume de dar bastante valor às análises estrangeiras sobre o Brasil — talvez por julgá-las mais isentas de afinidades partidárias; talvez por sequela da síndrome de vira-lata do brasileiro em relação a tudo que é nacional; talvez pelos dois motivos.
A narrativa que ganha hegemonia é a de que o país se desenvolveu, na última década, graças a um tripé, formado pela estabilização econômica, promovida pelo governo Fernando Henrique Cardoso (dando segurança às pessoas); pela inserção de milhares de brasileiros no conjunto de cidadãos-consumidores, política que começou a se consolidar no governo Lula (lembre-se do C da fórmula do PIB); e pelos bons ventos de comércio exterior soprados pela China, que comprou bastante, a preços altos, nossas commodities, em especial minério de ferro e grãos (segundo o FMI, as compras chinesas, na última década, equivaleram, para a renda da América Latina, a um bônus anual de 15%).
Mas, agora, a China diminuiu sua voracidade por commodities, e dos outros grandes parceiros comerciais do Brasil — os EUA e a Europa — não se pode esperar uma expansão no comércio. Ao mesmo tempo, os brasileiros pararam de consumir desenfreadamente. Duas pernas do tripé cambaleiam, levando a terceira — a estabilidade econômica — a bambolear também.
Vejamos isso na fórmula do PIB: Y = C + G + I + (X-M). Baixou C e baixou X-M. Que nos sobra para crescer? G e I, certo? Eis os problemas:
Investimento depende, principalmente, de dois fatores: investidores estrangeiros (que são atraídos por estabilidade, oportunidades de lucro ou por juros altos) e poupança interna (dinheiro fora do círculo imediato de comércio e de pagamentos, para ser emprestado para empresas, para financiar pesquisa e desenvolvimento tecnológicos, para obras de infraestrutura). Se o governo não economiza, a poupança interna, que conta também com o dinheiro dele, diminui, o que torna os juros mais altos e desestimula os empresários a tomarem crédito para ampliar ou aprimorar seus negócios. Se o país começa a ter má fama lá fora, se começam a dizer que ele anda sem projeto econômico, com aceleração inflacionária etc., isso afasta os investidores estrangeiros, que só estarão dispostos a investir aqui se a recompensa (os juros) forem altos — bom pra eles, péssimo pros empresários brasileiros, que, de novo, diante de juros altos, vão hesitar em investir.
Além disso, investimento é algo para o médio e longo prazos: não se modernizam portos, constroem-se ferrovias, amplia-se a oferta energética, reforma-se a burocracia tributária e desenvolvem-se novas tecnologias de produção de uma hora pra outra.
Por isso, nos últimos tempos se reclama tanto da inexistência de bons planos de investimentos ou do bom desempenho dos planos existentes.
O investimento é aquele meio-campista que foi obnubilado pelo ataque no início do jogo e, agora, que os artilheiros estão esgotados, ele vai ter que, de trás, dar conta de compensar a fadiga dos colegas.
E o pior é que, nessa analogia do PIB com time de futebol, aquele não conta, como este, com uma equipe reserva.
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Breno Fernandes escreve às terças
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