Eu poderia ser sem essa cidade
as suas ruas exatamente tais
os seus carros na calçada, o seu tom
a gente que por ora me fita
Eu poderia ser sem qualquer
e estar com os fronteiriços, os continentais,
ou com os besouros da funda gruta
Eu poderia ser sem aquela moça
sua boca não é a única
nem seus olhos as últimas pontas
Eu também amaria aquela que passou no dia 23 de Março
entre duas seções da livraria e nunca mais
Eu também amaria a croata
que no frio chora porque não chego
Eu poderia ser sem esse cão
E evitaria despesas que nem posso mais ter
Eu me daria um sono maior, sem latidos na porta
Não sentiria a falta que me faz
ao ir com minha irmã, um dia na praia, longe
E não haveria a definitiva,
Para quando ele se for
Eu poderia ser sem esse poema
estaria na casa da moça, ou na rua junto ao cão
Tenho talento para goleiro
Tenho ganas para técnico de enfermagem
na minha cidade do interior
Eu poderia fazer no curso outro verso
Muito melhor, um que enfim nos acalmasse
Eu poderia estar em outros milhares
Mas como, se nem mesmo um deus?
Se ele, se há, que é tudo e mais
E já não é mais sem todas luzes,
sem aquela cor na amendoeira,
sem os pregos atrás do quadro
sem mim, no rincão do universo
com planos de ganhar uns mil reais
Veja, se de repente, eu for como o deus,
e o deus como eu
por poder e não ser,
por já não mais poder e ser
o que virá
1 comentário
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julho 8, 2013 4:43 pm às 16:43
Davi
Saulo, meu amigo, impressão minha ou está poemando enquanto passeia com Milo? Gostei muito, pois lembra esses caminho bobos que a mente da gente vai querendo ser outro, resolvendo problemas que não existem na ilusão de fugir do que se é… muito bom.