Painho agora me veio com essa ideia torta: que eu não ficasse perto das vacas magras, que urubu não faz diferença de pele e osso de menino e bicho, que se o urubu errar pode bater com o bico é nas minhas fuças tamanha a minha magrém, não dou ouvidos porque gosto de sentir a respiração quente dos bichanos e o coração deles batendo quando passo a mão, e gosto de conversar sem resposta mesmo, sem resposta assim palavreada porque bicho fala é com a respiração, sabia?, fico assim assim tonto de alegria em ter o pé metido na terra e no mato, minha vida é mexer com terra e bicho e também a de meu pai que quer tanto bem a essa tarefa de terra que a gente teima em fazer verdejar mas que nada, que nada, aqui o que tá gritando é essa plantação toda esturricada e o choro morno de minha mãe, morno porque já repetido porque antes o choro de minha mãe vinha quente, fervendo acabar com minha alegria, agora ela vive budejando pelos cantos, e só escuto baixinho ai minha nossa senhora, ai minha nossa senhora, acho que pedindo pela gente e pelas terras que o sol está carcomendo sem dó nem piedade, eu pensando em obedecer ou desobedecer painho e ir fazer um dengo em Chispita, vaca minha de coração, mas Chispita tá magrinha, coitada, ela precisa de carinho, painho, entenda ô! Aí, diante de tanta coisa que mexe com meus nervos e meu peito eu tô tentado a arrumar minha tralha e fazer vida na cidade.
Mas aí levo Chispita que vai ser meu pedaço de mim mesmo naquele outro lugar.
Carmezim escreve às quartas-feiras
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