A saia comprida mais que o joelho, o cabelo batendo na bunda, aquela roupa toda de gente velha e depois ainda queria que os meninos todos da rua não ficassem de arrelia. Mal despontava na esquina já começavam a gritar carangueja carangueja carangueja. Eram os pelos que iam embolando na perna. E ela só levantava o braço balançando a bíblia, pensando que o melhor seria tacar pedra. Mas depois se arrependia de não ser só boa como deus.

Porque eu vi quando passava, me deu vontade de contar essa história. Não sei como continua.

Lembrei.

O pai dizia que ela devia largar essa bestage de ser crente, e a mãe mais rezava pra não ter sua casa desabençoada nem ela mesma de ter casado com um homem tão ruim assim. No sábado era dia de batizar a filha lá no estádio, orgulho tão grande que sentia.

Acordaram cedo pra pegar o ônibus da caravana da igreja, todas aquelas pessoas no consolo de serem iguais na vida morte e lanche de mortadela. Mariene ganhava os cumprimentos antecipados, era esse o nome dela.

Foram chegando, sentando, rezando e tudo mais até que deu a hora. A piscina ficava bem no meio do campo.  Era coletivo, o batismo, então somando Mariene contavam dez. Um de cada vez. Mas aí na beirinha ela lembrou que não podia, de jeito nenhum, e falou isso para o pastor, que na sua doidice de tanto grito não escutava ninguém e foi logo empurrando a menina. E quanto mais ela se debatia, mais ele empurrava, e abaixava com força a cabeça, e começou mesmo a alarmar que era um caso de demônio que não queria deixar o corpo, e Mariene chamando por deus, deus, deus, mas não teve jeito, porque ela não sabia nadar.

Tatiana Mendonça escreve às sextas