Falar de mim é fácil. Difícil é ser eu. [sic]

De todas as frases de efeito estúpidas que lemos nos para-choques da vida, no adesivo da SUV blindada que invade o sinal vermelho, nos murais dos Guarani-Kaiowá, essa é a mais irritante.  Enxergo nela um comodismo dissimulado, uma jactância mascarada pela incapacidade de assumir a mais universal das verdades que regem o mundo: Toda imperfeição, além de desejada, será perdoada. Vivemos para errar, concordar com as críticas, chafurdar na lama da auto-piedade e fingir que aprendemos algo nesse processo. Ad infinitum.

Imagine uma pessoa egoísta. Egoísta, orgulhosa, fria, preguiçosa e insensível. Não gosta de atender celular, não responde e-mails, não gosta de dar explicações, de assumir compromissos nem de fazer planos que envolvam outra pessoa.

Não é querendo me gabar não mas…Esse cara sou eu.

Hoje é meu aniversário e queria acreditar que melhorei ao longo desse pouco mais de três décadas. Mas não creio nisso de coração e acho pouco provável que tal cenário mude. Na verdade sequer quero isso e duvido que seja possível. Não de forma intrínseca.

O segredo não é tentar mudar intimamente. É tentar mudar o jeito que você permite que seu modo torto, indiferente, arredio interfira na vida daqueles que interagem com você. Modificar a forma que as pessoas te enxergam. Especialmente quem tem apreço por você.

Se você é bipolar, misantropo, cínico, irônico isso pode até parecer legal nas redes sociais. Mas duvido que alguém consiga um emprego com essa descrição. Ou seja: Finja que você é uma pessoa boa. Finja de tal forma, convença-se tão veementemente que você acabará acreditando nisso. A sociedade agradecerá.

O genial André Dahmer tem um texto fundamental para quem atravessa o deserto das trinta primaveras. Evitar tornar-se  pedra não é solução, é apenas o caminho.

Ser eu – ou ser você – é na verdade a mais fácil das opções. E a mais incômoda, certamente. E falar sobre isso sim, é que é difícil.

Alex Rolim escreve às quintas, faz aniversário hoje e quer ganhar a biografia de Marighella de presente