Era mais ou menos assim o sonho. Eu parada em algum lugar desconhecido estrangeiro, olhando as casas e o rio — estava sobre uma ponte. Havia um relógio desses que se pregam na parede, só que maior, por ser de rua e precisar estar visível à toda gente. Tinha uma mochila e sabia aonde ir.
Verdade não era sonho, porque não morou em noite nenhuma, era mais uma visão. Era o lugar que me aguardava quando crescesse. E enquanto ia aumentando repetia para a menina que me acompanhava a gente está indo para lá, a gente está indo, a gente está quase chegando, mas o certo é que já estava sem rumo, nunca fui boa de decorar caminho.
Ela impacientava-se com a minha desorientação, tentava me explicar como chegar com seus passinhos curtos, mas era tanta implicância, e tão generalizada, que num momento quando virei não consegui mais avistá-la. A partir daí ando na companhia da angústia desse momento que se reprisa no escuro e também dia, pensando se ela está se sentindo muito só onde quer que esteja perdida.
Antes de dormir mesmo sem querer rezo promessa, mas não me esforço para cumprir coisa alguma. Minha alegria é chegar nas fronteiras onde mora gente dupla, porque aí tenho sossego de parecença.
Mas o que eu queria dizer quando comecei a escrever é que na noite passada, depois de tanto tempo, voltei a sonhar com a visão e a revi moreninha e brava de bico perguntando quando é mesmo que a gente vai chegar falta muito ainda quanto! e eu respondi estou tentando, estou tentando, estou tentando, se tinha algum modo de isso servir.
Tatiana Mendonça escreve às sextas
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