Ivete Maria Dias de Sangalo Cady. Mas pode chamar de VEVETA. Ela diz que assim prefere e até já lançou disco com esse epíteto. Sim, ela é cantora, mas você pode ser admirada a qualquer momento em comerciais de cerveja, programas ou seriados de TV, em outdoors pela cidade, embalagens de esponja de aço, cartazes de lojas departamento, anúncios de página inteira em jornais diários, reportagens especiais de revistas de celebridades, chamadas de portais da internet. Você pode interpelá-la pelo twitter. Ela parece possuir o dom da onipresença, – algo que não lhe é exclusivo – a cultura da CELEBRIZAÇÃO mantém esses TOTENS MODERNOS sempre gravitando em nossas vidas, mas com ela é diferente. É natural. Espontâneo. Ou aparenta ser de tal forma, que fatalmente é.

Ela tem o jeito moleca daquela prima do churrasco do feriadão. Algo que só moças interioranas possuem, brejeirice despojada com um verniz de falsa timidez. Mas só que ela é desbocada e INSINUANTE. Capaz de tirar a calçola no meio de uma coletiva. De arrebatar o microfone da mão do repórter incauto. De tão imprevisível, é possível adivinhar que haverá alguma surpresa no roteiro. Eu até diria que ela parece personagem de algum romance de Jorge Amado, mas certamente não seria uma analogia original. Some tudo isso a uma voz contralto marcante e o mais belo PAR DE COXAS da Bahia e VOILÀ: Eis uma mulher concebida para ser amada e admirada. ISN’T SHE LOVELY, Mr Wonder?

Por isso digo e não pra te agradar, Ivete Maria: Tu és a maior cantora da Cidade do Salvador da Bahia de Todos-os-Santos desde o terceiro quarto do século passado. Sei que certamente haverá gente mais qualificada para massagear teu ego, mas qualquer pulha percebe isso. Você é muito mais que o CANTO DA CIDADE, tem carisma e charme, fala a linguagem do povo e entende o que eles querem. Você é a MUSA deste acidente geográfico. Por isso te conclamo: VEVETA, você pode mais.

Desde que te revelaste como a DAMA DO LOTAÇÃO DA CIDADE ALTA, não restou um pingo de dúvida: Se existe alguém que possa interceder por esse povo sofrido, desprezados filhos de Caramuru e Catarina Paraguaçu [olhe pela janela, ela é uma alegoria nesse monumento na praça em frente ao teu casebre], é você VEVETA, que mesmo nascida às margens do Velho Chico parece mais SOTEROPOLITANA que qualquer MORENA FRAJOLA da Baixa dos Sapateiros.

VEVETA, use tua voz grossa, teu prestígio global, tuas amizades boas e ruins influentes na esfera política para socorrer esse amado torrão que te adotou. Porque quando você abriu a janela do buzu para sentir a brisa marítima no seu passeio noturno, você percebeu como nossa orla está abandonada? Às escuras? Sem equipamentos de uso público? Sem policiamento ou qualquer intervenção que demonstre a presença do poder municipal/estadual? Você também não fica RETADA com isso?

VEVETA quase posso imaginar você pongando na traseira do buzu e cantando “… Seu cobrador não me leve a mal, vou passar por debaixo da borboleta…” e sei que fazes isso não para fingir uma naturalidade inexistente como alvitraram algumas línguas ferinas. Todo mundo te conhece e sabe que gostas de fazer faxina, cozinhar, é de tua natureza simplória, que mal há? Poderias atravessar a cidade de helicóptero, mas perderia a chance de ter um contato direto e real com tua gente?

Então VEVETA porque não toma uma iniciativa em relação à diáspora carnavalesca? Não digo tocar de graça todo dia, sei que tem um bacuri pra criar, mas escolher um dia e horário mais nobre e menos fadigoso para a galera que o sol inclemente da quarta de cinzas.  Acaba com essa conversinha de bastidores que o teu arrastão é só pra promover sua imagem, e que os caciques do carnaval como teus amigos Brown e Bell são ególatras e por isso acabaram com o encontro de trios na praça do povo. Toma essa iniciativa mulher! Vai melhorar ainda mais tua imagem e te ajudar a vender mais produtos ainda para o povão que te ama.

E nestes teus passeios crepusculares já se deparou com algum pagodeiro ouvindo música no celular no fundão do buzu? Pois então IVETINHA, aproveita tua moral, pra eles você é a PRESIDENTA, e enquadra essa galera também. Não é questão de gosto musical, é um pouquinho de respeito pelo outro. Tu deve imaginar o inferno que é o PARIPE-NARANDIBA na hora do rush. Imagina agora com a zuada infernal desses XINGUE-LINGUE capazes de entupir o MADEIRADA?

Sei que estou sendo insolente, mas não te pediria nada disso se não soubesse o apreço que tens pela plebe dessa cidade que te ama tanto. Anotou tudo? Só mais um pedido, agora pessoal: Grava uma versão de AMOR DE BUZU. É que essa é minha música com Katiúscia, a conheci no ESTAÇÃO PIRAJÁ – CANABRAVA. Mas não se enciume, você será a eterna dona do meu coração: A mainha do Santa Cruz – Campo Grande R2.

Alex Rolim escreve às quintas-feiras.